A dobradinha dos sonhos da Faria Lima
"A Faria Lima escolheu o político ideal para fazer dobradinha com o governador de São Paulo."

Em mais um aparente ataque de “sincericídio”, Valdemar da Costa Neto reconheceu num “evento de luxo do setor equino” que existiu uma trama golpista em 2022, dias depois de ter admitido num estúdio de TV que confia nas urnas eletrônicas e que foi “porque eu estava numa situação muito difícil” que o PL contestou no TSE o resultado da eleição daquele ano para a presidência da República.
Tarcísio de Freitas olhou os aparentes “sincericídios” de Valdemar, olhou para a reação (até agora) morna de Donald Trump à condenação de Jair Bolsonaro no STF, pegou uma calculadora de 2026 dígitos, dessas usadas na Brigadeiro Faria Lima, fez contas complexas e decidiu cancelar a viagem que faria nesta segunda-feira, 15, para Brasília a fim de “destravar a anistia” a Jair Bolsonaro. A imprensa diz que o resultado que deu na calculadora é que Tarcísio “já fez o necessário pela anistia”.
Depois, parece que Tarcísio usou a calculadora outra vez, ou atendeu a uma chamada, ou levou um chamado, ou tudo isso junto, e acabou pedindo ao STF autorização para visitar Jair Bolsonaro nesta terça-feira, 16.
Sobre o candidato preferido do “mercado” para a eleição presidencial do ano que vem, Eduardo Bolsonaro já falou sobre isso em mensagem a seu pai citada no inquérito da Polícia Federal sobre coação no julgamento da ação penal do golpe: “uma solução Tarcísio vai apenas resolver a vida do pessoal da Faria Lima”.
Neste domingo, 14, no Globo, Lauro Jardim afirmou que o Centrão quer alguém da família Bolsonaro para formar chapa com Tarcísio em 2026 e que “a Faria Lima também escolheu o político ideal para fazer dobradinha com o governador de São Paulo”.
Trata-se, segundo Lauro Jardim, do governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Tarcísio e Zema têm muitas coisas em comum, como, por exemplo, culparem Lula pelo tarifaço de Trump e o objetivo declarado de dar indulto a Jair Bolsonaro. Tarcísio deixou isso bem claro no fim de agosto. Zema, ainda antes, no início de junho, numa entrevista à Folha de S.Paulo.
Na mesma entrevista, o “político ideal” da Faria Lima para a vice de Tarcísio não pôde afirmar que a ditadura no Brasil foi ditadura: “não sou historiador, nunca me aprofundei”.
Voltando à coluna de Lauro Jardim, o colunista repassa o que “disse um banqueiro”:
“Se juntar governadores populares dos dois maiores colégios eleitorais, não tem erro.”
Quase 100 anos depois do fim da política do café com leite e da República Velha, São Paulo não é mais o maior produtor de café do Brasil, mas Minas Gerais ainda é campeão nacional da produção de leite.
Há dois anos, a propósito, Romeu Zema comparou o Nordeste a “vaquinhas que produzem pouco”, ao criticar, numa entrevista ao Estadão, a criação do Fundo Nordeste no âmbito da reforma tributária, reclamando que o Sul e o Sudeste “têm que contribuir sem poder receber nada”.
“Senão você vai cair naquela história do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito”, disse Zema.
Na mais famosa das suas homilias contra o Führer, a de 3 de agosto de 1941, Clemens von Galen, bispo de Münster, insurgiu-se contra a dizimação pelos nazistas dos assim considerados “membros improdutivos da comunidade nacional”; de todo aquele que os nazistas tentavam desumanizar classificando-o como “uma vaca que não dá mais leite”.