A ficha corrida do mais novo deputado federal
“Eu espero muito que venha uma ajuda de fora para que a gente possa melhorar esse clima político no Brasil”.
Em novembro de 2019, o então deputado federal Coronel Tadeu arrancou e destruiu um painel de uma exposição sobre o Dia da Consciência Negra montada no túnel que liga o plenário principal da Câmara ao anexo das comissões. Como “punição” pelo quebra-quebra racista dentro do Congresso Nacional, Coronel Tadeu ganhou do Conselho de Ética da Câmara uma “censura verbal”.
Como prêmio, Coronel Tadeu ganhou, no mesmo dia do quebra-quebra, no plenário da Câmara, os cumprimentos de Daniel Silveira, que em 2018, num ato de campanha, quebrou uma placa de homenagem a Marielle Franco no Rio de Janeiro e como prêmio foi eleito deputado federal. A cena de confraternização entre os quebra-placas foi flagrada pelo fotógrafo Lula Marques e é ilustrativa da crosta de sujeira que cobre o Congresso brasileiro.



Naquele mesmo novembro de 2019, três anos antes do plano Punhal Verde e Amarelo, Coronel Tadeu postou no Twitter que não via a hora “do Lula morrer”.
O tempo passa, o tempo voa, e no dia 27 de abril de 2022, com Coronel Tadeu e Daniel Silveira já no PL (os dois foram eleitos em 2018 pelo PSL), Tadeu presenteou Silveira com um quadro emoldurado com o “indulto da graça” dado por Jair Bolsonaro ao brutamontes saudoso do AI-5.
Um mês depois, no dia 26 de maio de 2022, com as eleições se aproximando, Coronel Tadeu dirigiu-se nos seguinte termos a centenas colecionadores de armas de fogo, atiradores “esportivos” e caçadores de javali (CACs) reunidos numa audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo:
“Se nós queremos liberdade, vamos lutar por essa liberdade. Antes que a gente passe para uma luta mais violenta, vamos lutar no campo político, que ainda é o nosso terreno, ainda é o campo mais limpo e mais sagrado para que a gente possa fazer valer a nossa vontade".
Semanas antes de ir à Alesp insuflar CACs a “uma luta mais violenta”, caso a política não bastasse, Tadeu, numa entrevista à rádio Joven Pan, tinha pedido “alguma interferência um pouco mais contundente das Forças Armadas” no processo eleitoral que estava prestes, para “abrir essa caixa de Pandora” do TSE.
No início de novembro de 2022, logo após as eleições, Coronel Tadeu surgiu numa transmissão ao vivo feita da casa do argentino Fernando Cerimedo, em Buenos Aires, para agradecer àquele “herói dos brasileiros”, ao “argentino que veio nos socorrer” pelo que ele tinha feito no dia anterior.
Horas antes de receber Tadeu em sua casa, Fernando Cerimedo, que é ligado a Eduardo Bolsonaro, tinha apresentado a live “Brasil Was Stolen” (“O Brasil foi roubado”), que foi um dos fatores que deram fôlego aos acampamentos golpistas na frente dos quartéis, no âmbito da conspiração golpista de 2022.
Agora mesmo, em meados de março, Tadeu voltou a conjurar auxílio externo contra o seu próprio país, de novo em dobradinha com Eduardo Bolsonaro. Comentando ao vivo em suas redes sociais a decisão de Eduardo Bolsonaro de se licenciar do cargo de deputado federal para se malocar em algum bunker às margens do “Golfo da América”, disse assim o coronel:
“Eu espero muito que venha uma ajuda de fora para que a gente possa melhorar esse clima político no Brasil”.
Coronel Tadeu não foi reeleito em 2022, mas voltará em breve à Câmara dos Deputados. Tadeu é o suplente da deputada condenada Carla Zambelli, que meteu o pé para a Itália, fugindo da Justiça brasileira e para trabalhar por “ajuda de fora para que a gente possa melhorar esse clima político no Brasil”.