A mídia é como a tuberculose
“O vento estava a favor do Supremo e contra Trump e Jair Bolsonaro, mas, dizem, começou a mudar”.
A mídia mainstream, “tradicional”, “grande mídia”, corporativa, comercial, ela é o que é desde que o samba é samba: estribada na reprodução do senso comum, em vez do ensejo ao senso crítico, e nos postulados da exploração do homem pelo homem, em vez do esclarecimento enquanto vertente para a liberdade (liberdade à vera, não essa da “direita libertária”).
Essa mídia é um dos pilares de um tipo de sociedade que não só embarga o tempo todo o aprofundamento da Democracia até os mais pobres, mas também especula, transige, por vezes - várias vezes, aliás - pactua com forças empenhadas em reduzir a Democracia a pó.
A atuação dessa mídia na pandemia da covid-19, firme ao lado da ciência, contra o negacionismo, e a cobertura do inquérito do golpe, palco para profissões de fé nos princípios e valores democráticos e republicanos, podem ter deixado em algumas pessoas a ideia de que alguma coisa ali poderia ter mudado.
Mas a mídia imiscuída com o capital é como Umberto Eco dizia do fascismo. Leitora, leitor, o fascismo e a mídia corporativa são como a tuberculose: a pessoa tem uma aparência saudável e, de repente, começa a expelir sangue.
Assim, de repente, o Grupo Folha publica um editorial, “Bolsonaro tem direito à livre expressão”, ecoando o Departamento de Estado dos EUA - “deixem Bolsonaro falar!” -, e isso no mesmo dia em que uma das mais tarimbadas jornalistas da Folha de S.Paulo, Monica Bergamo, diz assim, citando integrantes do STF e como se a mídia fosse apenas biruta ou cata-vento, e não tempestade:
“O vento estava a favor do Supremo e contra Trump e Jair Bolsonaro, mas, dizem, começou a mudar”.
Assim, num dia o Grupo Globo demite uma jornalista corajosa odiada pela extrema-direita, Daniela Lima, e, no outro, abre o sinal para um dos líderes da extrema-direita, Flavio Bolsonaro, anunciar ao vivo na Globo News o fechamento à força dos trabalhos do Congresso.
Passa mais um dia e, com o Congresso fechado, a Globo News abre o microfone para Sergio Moro - sintomaticamente, Sergio Moro - defender o ato golpista e O Globo publica uma longa entrevista de Eduardo Bolsonaro a Bela Megale na qual o traidor da pátria é candidamente perguntado assim pela repórter:
“Quais são seus planos para 2026?”
Seus textos são fabulosos. E não só pelas informações. Fico admirada.
Com uma grande mídia jogando contra, quem precisa de inimigos? Está difícil para o Brasil.