A testemunha
Comandante do Exército na época da tentativa de golpe de Bolsonaro e do bolsonarismo militar, o general Freire Gomes depõe nesta segunda-feira, 19, no STF. Não como réu, mas como testemunha.

Quando era comandante do Exército Brasileiro, o general Marco Antonio Freire Gomes destacou oficiais para a pavimentação e pintura dos meios-fios do golpe de Jair Bolsonaro e do bolsonarismo militar, ou seja, para a campanha de ataques às urnas eletrônicas.
Durante as eleições de 2022, o Centro de Comunicação Social do Exército atuou, sob Freire Gomes, para tumultuar o período eleitoral, quando o CCOMSEX chegou a pôr uma tarja de “fake news” em notícia de que o Alto Comando respeitaria o resultado da votação para presidente da República.
Onze dias após as eleições, Freire Gomes soltou nota conjunta com os comandantes da Marinha e da Aeronáutica ameaçando com o “cumprimento das nobres missões de Soldados Brasileiros” as instituições da República que tentassem mandar para casa quem estava pedindo golpe de Estado na frente dos quartéis.
Horas após a divulgação da nota “Às instituições e ao povo brasileiro”, o tenente-coronel Mauro Cid enviou mensagem de áudio ao general Freire Gomes relatando que “o pessoal elogiou muito” a nota; que “eles estão sentindo o respaldo das Forças Armadas”; que, com a nota, “eles estão se sentindo seguros para dar um passo à frente”; que o passo à frente seria puxar o “movimento” para o “Congresso, STF, Praça dos Três Poderes”.
Nas semanas após as eleições, o general Freire Gomes participou de reuniões em que se discutiu Estado de sítio, prisão de autoridades, intervenção no TSE, etc. Entre uma e outra reunião, foi informado por Cid sobre “ajustes” em minuta golpista - além de, como vimos acima, ser informado por Cid do que iria acontecer na Praça dos Três Poderes, semanas antes do 8/1.
O Exército Brasileiro, sob o comando de Freire Gomes, participou ativamente de duas das três fases da conspiração golpista: a campanha de envenenamento da população contra o TSE e as urnas eletrônicas e o esforço para a manutenção dos acampamentos golpistas na frente dos quartéis, à espera do “soco na mesa”.
O “soco na mesa” não veio. Comentando conversas do policial federal Wladimir Matos Soares com o advogado Luciano Diniz, aquelas sobre a disposição dos golpistas para “matar meio mundo”, reveladas na semana passada, Miriam Leitão resumiu bem o porquê: “houve uma tentativa de golpe; a Marinha apoiava; o Exército recuou”.
Recua quem avançava e, de repente, para e dá um passo para trás. Recua quem desiste de propósito que buscava alcançar.
Em sua defesa, Freire Gomes diz que fingiu adesão ao golpe, ou se fingiu de morto, para não ser substituído no comando do Exército por algum general de fato golpista.
Porém, enquanto o Gene Hackman de Pirassununga atuava, representava, calava, uma bomba quase explodiu no aeroporto de Brasília e kids pretos chegaram a ir a campo para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes.
Após deixar o comando da Força e Bolsonaro deixar o poder, o general seguiu se fingindo de morto, só abrindo a boca sobre a conspiração golpista mais de um ano depois, quando foi chamado às falas pela Polícia Federal.
Estão são os fatos conhecidos até agora.
O general Freire Gomes depõe nesta segunda-feira, 19, no âmbito da ação penal do golpe no STF. O general depõe na condição de testemunha de acusação.
Suas matérias são boas, Hugo. Colocam tudo em contexto e são muito bem escritas. Obrigado.