A tornozeleira e a chave laser escondida

Segundo a imprensa, membros do Departamento de Estado dos EUA informaram a aliados de Bolsonaro que já se cogita ações contra o Brasil “em conjunto com Otan” e até bloqueio do uso de satélites e GPS.

Imagem gerada por ferramenta de “inteligência artificial”.

“Sair do Brasil é a coisa mais fácil”, disse Jair Bolsonaro a um batalhão de jornalistas nesta sexta-feira, 18, minutos após ser condecorado com uma tornozeleira eletrônica e depois de perguntado se pretendia fugir do país. Nenhum dos jornalistas do batalhão teve a presença de espírito de perguntar de bate-pronto: “senhor ex-presidente, quebrar tornozeleira também?”.

A tornozeleira eletrônica foi inventada nos EUA pelo juiz Jack Love, do Novo México, no começo da década 1980. Na época, em uma entrevista ao New York Times, o juiz Love contou que teve a ideia lendo uma tirinha do Homem-Aranha na qual Wilson Fisk, o Rei do Crime, obriga o cabeça de teia a usar um bracelete que informa, denuncia sua posição.

A tirinha que inspirou o juiz Jack Love foi publicada em 1977, ano em que a Academia Militar das Agulhas Negras expectorou para o Brasil um certo aspirante a oficial de Artilharia. Na tirinha de Stan Lee e John Romita, Fisk avisa ao Aranha sobre o bracelete: “nem mesmo o seu fantástico poder pode removê-lo! Nada pode, exceto minha chave laser escondida!”.

Eles não tinham chave laser nenhuma, mas pelo menos 10 peixes pequenos condenados ou investigados pelo ataque do 8/1 à Praça dos Três Poderes removeram, arrebentaram suas tornozeleiras eletrônicas e fugiram do Brasil, a maioria deles para a Argentina.

Foi para a Argentina, aliás, que em janeiro a Embaixada de Israel, quem sabe o Mossad, extraiu do Brasil de forma “rápida e segura” um soldado israelense que estava sendo investigado pela Polícia Federal por crimes de guerra em Gaza. A investigação tinha sido determinada pela Justiça brasileira a pedido de uma organização internacional de defesa dos Direitos Humanos. O matador de palestinos Yuval Vagdani foi retirado de Morro de São Paulo para Salvador, de Salvador para Buenos Aires e de lá para Tel Aviv.

Depois, o ministro de Assuntos da Diáspora de Israel, Amichai Chikli, agradeceu a Eduardo Bolsonaro pelos “esforços em prol dos soldados israelenses”.

Na noite desta sexta, após o secretário de Estado de Donald Trump, Marco Rubio, anunciar sanções contra os ministros do STF (exceto os dois nomeados por Bolsonaro mais Luiz In Fux We Trust), a CNN, citando “interlocutores de Eduardo Bolsonaro”, mencionou que a próxima investida de Trump contra o Brasil pode ser um distópico bloqueio do uso satélites e de GPS.

A Folha informou que “membros do Departamento de Estado dos EUA informaram a aliados” de Bolsonaro que já se cogita ações contra o Brasil “em conjunto com Otan” e “até bloqueio do uso de satélites e GPS”.

Ainda nesta sexta, a imprensa brasileira correu para explicar o funcionamento da tornozeleira que Bolsonaro agora usa, a essa altura já toda emporcalhada com farofa de Goiás: “o objeto tem um GPS e um modem de celular. Isso transmite a localização da pessoa em tempo real, via satélite, para uma central de monitoramento. Quem fornece as tornozeleiras e faz o acompanhamento são empresas privadas, devidamente contratadas pela Polícia”.

Ontem sextou, hoje é ficar de olho, preparar-se para quando eles, reis do crime, tentarem usar alguma chave laser escondida para abrir a porta do Brasil para as big techs, sob a erisipela de abrir tornozeleiras. Com ou sem ataque tecnológico, com ou sem guerra nas estrelas, alguém duvida que eles vão tentar? Alguém duvida que eles vão seguir tentando? Alguém aí duvida de mais alguma coisa?