Anda concorrido, o Rubicão
Faltou isso aqui para Fux tirar da toga um boné MAGA e vesti-lo sobre o guaxinim quando insinuou, para livrar Bolsonaro, que o Brasil caminha para um “regime hibrido” entre democracia e autocracia.
“Não só por experiência pessoal, mas porque tenho um gosto específico por esporte, sabe-se que nem num torneio de Mixed Martial Arts (MMA) se permite que uma pessoa apanhe durante 40 minutos porque uma surra de 40 minutos é conducente à morte. Só para termos uma ideia, esses lutadores bem preparados fisicamente lutam três rounds de cinco minutos por um de descanso”.
Foi assim que muitos anos atrás, em 2013, Luiz Fux votou por não tornar réu um obscuro deputado do Centrão denunciado ao STF por aplicar uma surra de 40 minutos à ex-mulher. Segundo Fux, relator do caso, não havia elementos materiais para aceitar a denúncia de violência doméstica contra o deputado Arthur César Pereira de Lira, porque, entre outras evasivas, a vítima do espancamento tinha sobrevivido — porque no peito de Jullyene Lins seguia batendo um coração.
Muitos anos depois, em março de 2025, quando a Primeira Turma do STF votou pela aceitação da denúncia dos golpistas pela PGR, foi com a frase “debaixo da toga bate o coração de um homem” que Luiz Fux anunciou, com seis meses de antecedência, que pintaria o caneco no mesmo plenário, na hora que chegasse o julgamento. Naquele 26 de março, Fux disse que os ministros tinham “de refletir dos erros e dos acertos” após julgarem “sob violenta emoção” os peixes pequenos do 8/1.
Nesta quarta-feira, 10, porém, Luiz Fux foi muito além. Faltou isso aqui para Fux sacar da toga um boné MAGA e vesti-lo sobre o guaxinim quando, para livrar e dar munição pós-julgamento a Jair Bolsonaro et caterva, insinuou, ou mais que isso, que o bem jurídico tutelado, o Estado Democrático de Direito no Brasil, estaria na verdade a caminho de um “regime hibrido” entre democracia e autocracia — música para os ouvidos de Trump, Rubio, Hegseth e dos nacionais brasileiros, traidores da Pátria, ora mancomunados com o triunvirato fascista estadunidense para atacar o Brasil.
“Muito embora o país ainda não tenha sido relegado ao status de regime híbrido, houve queda acentuada em sua classificação nos últimos anos [no Índice de Democracia, elaborado pela The Economist Intelligence Unit]”, disse Fux, também ele em “considerandos”.
Luiz Fux abraçou com força as duas principais teses do bolsogolpismo. Primeiro, a de que os golpistas não podem ser enquadrados como golpistas se o governo não foi deposto, ou seja, se o golpe não se consumou. Afinal, nas caixas torácicas de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes — alvos da Punhal Verde Amarelo — seguem batendo corações. É a tese dos que vão tentar o golpe outra vez, e outra vez, e outra vez, até que não haja mais batimentos cardíacos. Depois, In Fux We Trust classificou o 8/1 como “irresponsável reação de populares radicais”.
Os otimistas dizem que essa “divergência” entre Fux e Moraes prova diante do mundo que Bolsonaro enfrenta um julgamento aberto ao contraditório. Os pessimistas, ou apenas realistas, como Rui Tavares nesta terça-feira, 9, na Folha, alertam que as “patologias históricas que afetam as democracias” nem sempre vêm de chapéu com penacho.
Às vezes, dizemos nós, vêm com outras coisas que se põem sobre a calvície.
Além de não-sancionado pelos EUA, Luiz Fux é faixa vermelha e branca em jiu-jitsu. Vermelha, branca, vermelha, branca, vermelha, branca, 50 estrelas em fundo azul conducentes à morte. Porque o que se leva dessa vida, coração, is the love and the vote we have to give.
Só faltou mesmo o boné vermelho, porque a linha vermelha Luiz Fux atravessou, juntando-se, por exemplo, a Tarcísio de Freitas. O cordão dos traidores da pátria cada vez aumenta mais. Estejamos atentos, fortes: já tem gente demais atravessando o Rubicão.
Adorei a paródia da letra dos Beatles, assim como o texto todo