As bets, a Raposinha e o Pica-Pau
As bets são a maior fraude que existe hoje na praça. Por que é tão difícil classificar as bets e agir contra elas de acordo com o que elas são?
O professor de estatística Alexsandro Bezerra Cavalcanti, da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, disse à Folha de S.Paulo que o único jeito de quem aposta recorrentemente nas bets ganhar “consistentemente”, em vez de perder até as calças, é montar um modelo estatístico superior ao das casas de apostas:
"O jogador precisa entender suas chances de ganhar e perder melhor do que a banca, e sua única vantagem é precisar coletar informações sobre menos jogos ao mesmo tempo”.
O professor, então, repisa o óbvio: pouquíssimos apostadores conseguem a proeza, se não por mais nada, pelo singelo motivo de que as bets têm programas para cooptar talentos da matemática para seus quadros de funcionários.
“É por isso que as bets lucram”, diz ele.
O que não é tão obvio, conhecido, é que, segundo Cavalcanti, os porquíssimos apostadores que ganham mais que perdem acabam barrados da jogatina, pelas bets, sob a alegação de “comportamento suspeito”.
O título da matéria da Folha é “Entenda a matemática que faz maioria dos apostadores perder e bets lucrarem”. A matéria explica ainda como “lei dos grandes números” favorece as bets:
“Um exemplo dessa propriedade é a chance de ocorrer cara e coroa em uma moeda honesta (quando não há truques para fazer os arremessos tenderem para uma das faces). Em dez lançamentos, as proporções não devem estar balanceadas —provavelmente vão sair mais caras do que coroas ou vice-versa. Mas, se a pessoa jogar mil vezes, verá que a proporção de caras vai se aproximar da proporção de coroas, chegando a uma situação de 50% a 50%, como indica a média”.
Às parte as leis da estatística e os prodígios da matemática, o que as bets fazem com o trabalhador brasileiro cansado de ser pobre, seduzido por soluções mágicas para a carestia, é, ao fim e ao cabo, não muito mais complexo do que aquilo que a Raposinha fez com o Pica-Pau: iludir, trapacear.
É o que fazem as bets, não obstante os seus programas de “jogo responsável”, que não passam de um “beba com moderação” misturado com “responsabilidade social das empresas” para dichavar a maior fraude que existe hoje na praça.
Por que é tão difícil classificar as bets e agir contra elas de acordo com o que elas são?