As cartas do Papai Noel e as bombas mágicas do desejo
"Papai Noel estava com muita pressa — pediu para mandar junto uma das suas bombas-surpresa mágicas, que realizam desejos. Quando puxarem, façam um desejo e vejam se ele não se realiza".
Ao longo de mais de 20 anos, de 1920 e até 1943, os filhos de J. R. R. Tolkien receberam a cada mês de dezembro uma carta ilustrada, caprichada, “do Papai Noel”, além dos presentinhos nas meias nas noites de Natal. As memoráveis cartas do papai Tolkien (mas não vá contar isso às crianças), foram lindamente editadas no Brasil em 2012 pela Martins Fontes.
Come Ananás reproduz abaixo a carta “do Papai Noel” enviada a John, Michael e Christopher (Priscilla, a caçula de Tolkien, ainda não tinha nascido) em dezembro de 1925, há exatos 100 anos, exatamente um século antes de uma carta “do Alexandre de Moraes” cair como uma bomba mágica — do desejo — na rede progressista e virar peixe que nada mais rápido, bem mais rápido que o alerta de fake news inventada por algum Troll das Neves.
Casa do Penhasco,
Topo do Mundo,
Perto do Mastro do Polo Norte
Natal de 1925
Meus queridos meninos,
Este ano estou terrivelmente ocupado — quando penso nisso, minha mão fica mais trêmula do que nunca — e não muito rico; na verdade coisas horríveis andaram acontecendo, alguns dos presentes se estragaram, não tenho o Urso-Polar do Norte para me ajudar, e tive que mudar de casa pouco antes do Natal, então vocês imaginam em que estado tudo ficou e vão entender por que tenho um novo endereço, e por que só posso escrever uma carta para os dois.
Tudo aconteceu assim: num dia de muito vento, em novembro passado, meu gorro saiu voando e se enganchou no topo do mastro do Polo Norte. Eu disse para o Urso-Polar não fazer aquilo, mas ele escalou até a ponta fininha do mastro para pegar o gorro — e pegou. O mastro se quebrou ao meio e caiu no telhado da minha casa, e o Urso-Polar do Norte caiu pelo buraco que ele fez na sala de jantar, com meu gorro em cima do focinho; a neve toda caiu do telhado para dentro da casa, derreteu e apagou a lareira, escorreu para os porões, onde eu estava guardando os presentes deste ano; e o Urso-Polar do Norte quebrou a perna.
Agora ele já está bem de novo, mas fiquei tão zangado que ele diz que não vai mais tentar me ajudar — acho que perdeu a paciência e espero que a encontre de novo até o próximo Natal.
Estou mandando um desenho do acidente e da minha casa nova no penhasco acima do mastro do Polo Norte (com lindos porões dentro do penhasco). Se John não conseguir ler minha velha letra trêmula (de mil novecentos e vinte e cinco anos de idade), vai ter de pedir ao pai dele. Quando Michael vai aprender a ler para me escrever suas próprias cartas? Muito carinho para vocês dois e para o Christopher.
É só: até logo
Papai Noel
P.S.
Papai Noel estava com muita pressa — pediu para mandar junto uma das suas bombas-surpresa mágicas, que realizam desejos. Quando puxarem, façam um desejo e vejam se ele não se realiza. Desculpem a letra grossa, mas minha pata é gorda. Ajudo Papai Noel a fazer os embrulhos: moro com ele. Sou o GRANDE URSO (Polar)





