As unanimidades galípolas
Os únicos presidentes do Banco Central aprovados por unanimidade na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado nas últimas décadas foram Gabriel Galípolo e… Roberto Campos Neto.
Primeiro a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) e depois o plenário da Casa aprovaram nesta terça-feira, 8, a indicação de Gabriel Galípolo, feita pelo presidente Lula, para suceder o bolsonarista Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central a partir de janeiro de 2025.
Galípolo entrou no plenário 19, Ala Senador Alexandre Costa, Anexo II do Senado da República nesta terça, para ser sabatinado na CAE, estampando no currículo quase 100% de alinhamento com seu futuro antecessor nas reuniões do Copom enquanto diretor de Política Monetária do Bacen. Quase. Em maio deste ano, Galípolo votou pela redução de 0,5 ponto percentual da Selic, enquanto Campos Neto votou por redução menor, de 0,25.
Foi o suficiente para o “mercado” ter uma síncope e para Galípolo passar a acompanhar Campos Neto em todas as subsequentes manutenções ou aumentos da taxa básica de juros do Brasil, em uma sucessão de unanimidades galípolas lisonjeiras ao rentismo mas desgracentas para a atividade produtiva nacional.
Na mais nova unanimidade na praça, Galípolo foi aprovado nesta terça na CAE por 26 votos a zero, numa comissão amplamente dominada pela direita e pela extrema-direita - todos golpistas, todos funcionários do “mercado”.
Os únicos presidentes do Banco Central aprovados por unanimidade na CAE nas últimas décadas foram Galípolo e… Campos Neto.
No Plenário, o placar foi de 66 votos a cinco pela aprovação de Galípolo.
“Nunca encontrei uma resposta satisfatória para os juros do Brasil. Votei contra esse, votei contra os do passado, e vou continuar votando contra os do futuro enquanto eles trabalharem para meia dúzia de banqueiros, em vez de trabalharem para a sociedade brasileira”, disse um dos senadores que votaram contra, o marxista-leninista-maoísta Marcelo Castro (MDB-PI).
(Mentira. Castro é um egresso da Arena).
Em certo momento da sabatina de Galípolo, a senadora Damares Alves (PL-DF) dirigiu-se ao sabatinado nestes termos: “eu fico aqui olhando a sua simpatia e lamentando que o senhor vai ser presidente do Banco Central num governo de esquerda”.
O senador Carlos Portinho (PL-RJ), outro bolsonarista empedernido, não perdeu tempo e profetizou: “ele vai ter mais dois anos ainda, senadora Damares, no próximo [governo]”.
Além das unanimidades, existem as afinidades galípolas.
Na sabatina, Gabriel Galípolo foi questionado por um terceiro bolsonarista, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), se teria coragem de resistir a pressões de Lula ou de outro presidente para baixar a Selic. “Eu terei a coragem”, respondeu Galípolo, firme, em nome da “autonomia” do Bacen e em detrimento de uma taxa básica de juros algo civilizada.
“Como ao Banco Central não cabe correr risco, a função dele é ser mais conservador, para garantir que a taxa de juros esteja no patamar restritivo necessário, pelo tempo que for necessário, para se atingir a meta de inflação”, disse ainda, firme de novo, Gabriel Galípolo, na CAE do Senado.
“Amém”, devem ter suspirado os “conservadores” Damares Alves, Carlos Portinho e Oriovisto Guimarães.
Aprovado o nome de Galípolo no Senado, o jornal O Globo, arauto da "independência" do Banco Central, correu para publicar editorial intitulado "Aval a Galípolo é sinal de maturidade institucional", no qual o jornal diz que Galípolo "demonstrou independência e qualificação para o cargo".
Mas não há, entre nós, com o que se preocupar com a indicação do presidente Lula para a presidência do Banco Central. Tudo o que Galípolo fez até agora no Bacen? Tudo o que disse Galípolo na sabatina? Estratégia. Estratégia do lado de cá. A partir de janeiro, no pós-Campos Neto, o Brasil terá uma política monetária soberana, em vez de ajoelhar no milho.
Mais uma “vitória”: nesta terça, no Senado, enganamos direitinho o lado de lá…
Mais um ótimo texto, companheiro. Fiquei imaginando você voltando à escrita e abrindo parênteses para explicar a ironia sobre o canalha do Castro. Tempos difíceis.