Atire primeiro, teste o candidato depois
Após a carnificina na Penha e no Alemão, surgiu a notícia de que o PL de Claudio Castro fará pesquisa com o nome do chefe da Polícia Civil do Rio como opção de candidato ao governo do estado.

Na noite da última terça-feira, 28, horas após o massacre de mais de 130 pessoas nos complexos de favelas da Penha e do Alemão pelas polícias de Claudio Castro, uma das corporações perpetrantes da matança, a Polícia Civil do Rio de Janeiro, publicou uma nota oficial prometendo vingança pelos quatro agentes mortos durante a “megaoperação” — dois da Civil, dois do Bope.
“Os ataques covardes de criminosos contra nossos agentes não ficarão impunes. A resposta está vindo, e à altura”, diz a nota, anunciando para quem tem olhos e ouvidos a próxima chacina policial no Rio.
Eis a nota completa:
A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro lamenta profundamente a perda de nossos heróis, que deram suas vidas em defesa da sociedade durante a Megaoperação Contenção, na Zona Norte do Rio.
São eles:
Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho
Rodrigo Velloso Cabral
PM Heber Carvalho da Fonseca
PM RG, Cleiton Serafim Gonçalves
A instituição se solidariza com as famílias e amigos, compartilhando a dor dessa irreparável perda.Os ataques covardes de criminosos contra nossos agentes não ficarão impunes.
A resposta está vindo, e à altura.
Um dos agentes mortos durante a “megaoperação” contra o Comando Vermelho, Rodrigo Velloso Cabral, da Civil, tinha 34 anos de idade e pouco mais de um mês como policial. Um amigo de Rodrigo deixou o seguinte comentário na nota oficial postada pela corporação no Twitter/X:
“A esposa e a filha do meu amigo Rodrigo não queriam um herói. Apenas que ele voltasse pra casa hoje. Fazem 2 meses que ele terminou a formação na ACADEPOL. É lamentável perder a vida numa guerra sem sentido. Ainda vão usar seu nome e dos seus companheiros para fazer politicagem”.
‘Policiais como mercadorias políticas’
A professora Jacqueline Muniz, do Departamento de Segurança Pública/Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos da Universidade Federal Fluminense (UFF), ressaltou o seguinte em postagem no Facebook sobre a megachacina na Penha e no Alemão:
A operação foi conduzida, em sua maioria, com agentes generalistas que não trabalham em unidades especializadas e nem têm qualificação em operações policiais de alto risco. Em boa medida, são policiais convencionais que tocam a rotina burocrática, investigativa e ostensiva, e não apresentam padrão elevado de tiro defensivo por modalidade de tiro policial e por tipo de armamento. Eles, por razões profissionais, atuam em guarnições pequenas ou em tropas e não como corpos táticos, não dispondo de disciplina tática e nem especialização para cenários de alto risco. Este improviso feito pela convocação de policiais sem expertise e preparo técnico para operações policiais especiais amplificou as chances de letalidade e vitimização, entre policiais e civis, multiplicando a insegurança profissional e institucional, a oportunidade de balas achadas/perdidas e de agentes expostos indevidamente. Isto releva a manipulação de policiais como mercadorias políticas e o barateamento de suas vidas tal qual a vida dos moradores das periferias de onde saíram a maioria dos policiais fluminenses.
Necropesquisa de viabilidade eleitoral
Na entrevista coletiva sobre a “Megaoperação Contenção” dada nesta quarta-feira, 29, pela cúpula da Segurança Pública do Rio, o secretário estadual de Polícia Civil, Felipe Curi, aquele que acusou de “vilipêndio de cadáver” os moradores da Penha e do Alemão que foram buscar na mata dezenas de mortos na megachacina; na coletiva, dizíamos, Curi ironizou a frase infeliz sobre quem trafica e quem usa drogas dita pelo presidente Lula dias atrás.
“Hoje em dia, todo mundo é vítima. O ladrão é vítima da sociedade. O traficante outro dia virou vítima do usuário”, disse o delegado Curi.
Após a “Megaoperação Contenção”, surgiu a notícia de que o PL de Claudio Castro — e dos Bolsonaro — vai encomendar uma pesquisa com o nome de Felipe Curi como opção de candidato ao governo do Rio nas eleições do ano que vem. Caso a necropesquisa do PL constate que o delegado Curi ainda não é um candidato alvissareiro, o que poderia ajudar?



