Braga Netto, Netanyahu e o cãozinho Lucky: o clube de tutores de pets Brasil-Israel
“Nós temos um laguinho com peixes, e meu cachorro Lucky caiu dentro dele. Eu corri para pegar meu cachorro e meu celular caiu no lago”.
Nenhum serviço de streaming se animou para disponibilizar no Brasil o documentário The Bibi Files, da diretora sul-africana Alexis Bloom. Bibi é o apelido de Benjamin Netanyahu. O filme, lançado em novembro do ano passado, exibe em primeira mão trechos vazados de interrogatórios da investigação contra Netanyahu, por corrupção, aberta anos atrás em Israel.
A investigação resultou na primeira vez que um chefe do governo de Israel foi denunciado criminalmente durante o exercício do cargo, no que Netanyahu, hoje, senta-se ao mesmo tempo na cadeira de primeiro-ministro e no banco dos réus. E assim sabem até as pedras do Muro das Lamentações: Bibi usa a primeira para tentar se safar do segundo, investindo em intensificação de genocídio e especulando com o estouro de uma guerra nuclear.
“Tudo o que ele fez nos últimos cinco anos foi focado no som dos portões da prisão potencialmente fechando-se por trás das suas costas”, diz no documentário um amigo de infância de Bibi.
The Bibi Files mostra o que mostra a investigação: durante anos, magnatas israelenses subornaram Netanyahu e sua esposa, Sara, com caixas do champanhe preferido de Sara, do charuto preferido de Bibi, braceletes de diamantes, etc, em troca de favores como isenções fiscais direcionadas.
Um bilionário que fez fortuna importando celulares Nokia para a terra prometida, Shaul Elovitch, ganhou de Netanyahu acesso a fundos para pagar empréstimos bancários na última hora e assim salvar os seus negócios. Em troca, Netanyahu ganhou de Elovitch o controle informal do site Walla! News, propriedade da família Elovitch e site de notícias mais popular de Israel. Depois, com a polícia batendo à porta, Shaul mandou os envolvidos no quid pro quo destruírem seus celulares, para destruir provas.
Os vídeos dos interrogatórios de Netanyahu e Sara são nada menos que chocantes. Num deles, um investigador diz assim ao primeiro-ministro, que, além de famigerado matador de palestinos, é famoso também por sua memória prodigiosa: “o senhor reparou que 95% das repostas que deu neste depoimento foi ‘não lembro’”?
Assistindo a The Bibi Files, nem precisa ter memória boa para repassar os interrogatórios ainda fresquinhos, no âmbito da Ação Penal 2668, de Anderson Torres, Almir Garnier e comparsas do “núcleo crucial” da tentativa de golpe em 2022 no Brasil: “não lembro”, “não lembro”, “não lembro”.
Mas as semelhanças não param aí.
The Bibi Files mostra também, por exemplo, o interrogatório de Iris Elovitch, esposa de Shaul Elovitch e coproprietária do Walla! News. Perguntada sobre a destruição de provas do acordo corrupto feito entre Netanyahu e seu marido, Iris responde assim aos investigadores:
“Nós temos um laguinho com peixes, e meu cachorro Lucky caiu dentro dele. Eu corri para pegar meu cachorro e meu celular caiu no lago”.
Um dos investigadores não se aguenta e solta uma gargalhada. No STF, todos seguraram o riso quando Anderson Torres disse que ficou tão “transtornado” quando foi alvo de mandado de prisão - “perdi o equilíbrio” - que perdeu seu celular nos EUA.
Em novembro do ano passado, uma semana após o lançamento do documentário The Bibi Files, Braga Netto fez chegar à coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, aquilo que o general “diz a aliados” sobre a informação de que teria acontecido no seu apartamento o planejamento do triplo assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes:
“O general tinha o hábito de descer com o cachorro de duas a três vezes ao dia, nos arredores do prédio, onde costumava se encontrar com colegas de farda”.
Punhal Verde Amarelo? Não. Apenas um passeio com o totó.
“Onde o senhor estava na tarde de 8 de janeiro de 2023?”, perguntaram a Braga Netto na última terça-feira, 10, durante o interrogatório do general na Ação Penal 2668. O general respondeu:
“Meu cachorro deu problema. Eu estava no veterinário”.