Carla Zambelli: de arma e passaporte em punho
Até hoje, nada, absolutamente nada foi suficiente para a deputada Carla Zambelli ir parar no xadrez, nem para que a Justiça tomasse providências para que ela não voltasse a fugir.
Em janeiro de 2018, Lula estava de malas prontas para viajar para a Etiópia, onde participaria de uma reunião da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura sobre propostas de erradicação da fome na África. Na véspera da viagem, um juiz de primeira instância do Distrito Federal ordenou a apreensão do passaporte de Lula no âmbito de um processo-piada contra o ex-presidente por tráfico de influência na compra de caças suecos pela FAB.
No momento em que Lula teria embarcado para o chifre da África, Cristiano Zanin estava entregando o passaporte do seu cliente na sede da Polícia Federal em São Paulo.
No último 18 de maio, a deputada federal Carla Zambelli foi condenada pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no âmbito da conspiração golpista de 2022. Nesta terça, 3, 16 dias depois, Carla Zambelli anunciou numa rádio “conservadora” que, de passaporte em punho, deixou o país e não pretende voltar.
Fugiu.
Ao contrário do que fizeram com Lula, a Justiça tinha todos os motivos para apreender o passaporte de Carla Zambelli: em 2022, logo após as eleições, a deputada se pirulitou para EUA na sequencia imediata da abertura de um inquérito sobre a perseguição que ela protagonizou, de arma em punho, a um homem preto no Centro de São Paulo.
Na época, ela disse que não tinha fugido, mas que tinha viajado para os EUA para “restaurar a liberdade de expressão no Brasil”. Com suas contas nas redes sociais bloqueadas por espalhar fake news eleitoral, divulgou, dos EUA, contas novas, em “tentativa de driblar as determinações”, nas palavras da própria fugitiva. Dos EUA, sentiu-se à vontade para mandar um salve para os bloqueios golpistas que se formaram nas estradas brasileiras após a eleição de Lula: “parabéns, caminhoneiros. Permaneçam, não esmoreçam”.
Nada, absolutamente nada foi suficiente para a deputada Carla Zambelli ir parar no xadrez, nem antes dela viajar para os EUA, de onde descumpriu determinação judicial e insuflou o golpismo, nem quando ela voltou, nem depois, e até hoje. Até hoje, nada foi suficiente sequer para que a Justiça pelo menos tomasse providências para que a invasora do CNJ e perseguidora de pretos não voltasse a fugir - da Justiça.
Hoje, neste momento, tem gente rindo desse país-piada, e não é a gente, não.