Caso Glauber: predestinação ou premeditação?
“Provavelmente o meu destino não era ser vereador, é ser deputado federal e tomar o gabinete que o Glauber vai perder”.
Após passar meses cercando, ofendendo, provocando o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) nas ruas e em outros espaços públicos, sem conseguir o revide que esperava, o militante do MBL Gabriel Costenaro deu sua cartada final no dia 16 de abril do ano passado. Naquele dia, numa investida feita no corredor das comissões da Câmara dos Deputados, Costenaro insultou a mãe de Glauber, que estava gravemente doente - e morreu pouco tempo depois.
O deputado reagiu enxotando Costenaro a empurrões e pontapés para fora do prédio da Câmara, onde o provocador tinha entrado com autorização de uma deputada do Partido Novo. Imediatamente, na hora, o deputado Kim Kataguiri (União-SP), também do MBL, começou a tocar a trombeta da cassação de Glauber por “agredir um cidadão comum que veio aqui conversar com parlamentares”.
Semanas antes do episódio na Câmara, no dia 19 de março de 2024, o “cidadão comum” tinha seguido e interceptado Glauber Braga no Centro do Rio de Janeiro, pela enésima vez, naquela vez insistindo para que Glauber respondesse a um “questionamento” algo premonitório que tinha levado na ponta da língua, enquanto um comparsa filmava a “ação”.
“Deputado federal do PT tem que ser cassado porque agrediu cinegrafista?”, foi o que Gabriel Costenaro repetiu várias vezes naquele dia, defronte a Glauber Braga, para depois postar o vídeo nas redes sociais.
Ele se referia a um tumulto armado três dias antes por outro provocador do MBL, Matheus Faustino, e um comparsa - o tal “cinegrafista” - no Aeroporto Internacional de Natal. O tumulto causado por Faustino envolveu o deputado Fernando Mineiro (PT-RN) e a então presidenta do PT, Gleisi Hoffmann.
Com Alzheimer avançado, a mãe de Glauber Braga não poderia mesmo ter percebido o augúrio aziago de Gabriel Costenaro, como a mãe de Santiago Nasar, mesmo lúcida e intérprete de sonhos, não os percebeu nos sonhos do filho em Crônica de uma morte anunciada.
No dia 11 de setembro do ano passado, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, infestado de bolsonaristas, abriu investigação contra Glauber por quebra de decoro parlamentar, aceitando representação apresentada não por Kim Kataguiri, mas pelo Partido Novo. Naquela altura, Costenaro já estava em campanha para se tornar vereador do Rio de Janeiro, pelo Partido Novo, nas eleições 2024.
Arthur Lira se apaixonou à primeira vista pela representação contra o deputado que mais e melhor o confrontou - Glauber no plenário da Câmara, Lira na presidência da Casa - e mais e melhor denunciou o esquema do orçamento secreto. Coisa raríssima no Conselho de Ética, o processo andou. Até que na última quarta-feira, 2, o relator do caso, Paulo Magalhães (PSD-BA), um campeão de emendas de orçamento secreto, apresentou relatório favorável à cassação do mandato de Glauber Braga.
‘O meu destino é ser…’
Gabriel Costenaro não conseguiu entrar para a Câmara de Vereadores do Rio nas eleições do ano passado, ainda que tenha conseguido votação nominal um tanto expressiva, sufragado por 12.018 cariocas - mais da metade dos votos, por exemplo, em Carlos Bolsonaro. Cinco vereadores eleitos no Rio tiveram menos votos que o provocador, mas entraram por causa do sistema proporcional.
Três dias após a votação, Costenaro apareceu nas redes sociais para cacarejar sobre o malogro. Lá pelas tantas, como qualquer “cidadão comum” costuma fazer no gozo da cidadania, ele invocou para si a predestinação de “tomar” o gabinete de um deputado federal específico, aquele cuja crônica da cassação anunciada tem o predestinado como pivô:
“Provavelmente o meu destino não era ser vereador, é ser deputado federal e tomar o gabinete que o Glauber vai perder”.
Esse Costenaro é uma das maiores pragas fa$cistóides do RJ. Terá o fim merecido, com certeza.