No conto Chamadas telefônicas, de Roberto Bolaño, o personagem B está apaixonado, mas trata-se de um amor desventurado, encerrado pela outra pessoa por telefone.
B sofre. Uma noite, B sonha com um boneco de neve que anda pelo deserto — “o caminho do boneco é limítrofe, provavelmente fadado ao fracasso” — e liga para o seu amor para contar o sonho.
No outro lado da linha, silêncio. No dia seguinte volta a telefonar. E no outro dia. A atitude no outro lado da linha é cada vez mais fria, “como se com cada chamada B estivesse se afastando no tempo”.
“Estou desaparecendo, pensa B”.
Em mais uma ligação, B ameaça ir lá bater na porta: “não suporto esses telefonemas, quero ver seu rosto quando falo com você”.
“Não abrirei a porta”, é que o ouve como resposta.
Um dia, B procura o irmão do seu amor. O irmão, que não é nomeado no conto, quem sabe Marco Rubio, diz que o amor de B tinha muitos pretendentes.
O conto Conversas telefônicas dá nome a um livro de Bolaño cuja epígrafe é uma citação de Tchekhov: “quem, melhor que o senhor, pode compreender meu medo?”.