Conclave: os embalos de Mercedes Sosa na Capela Sistina
Entrevistado pelo bom católico Gerson Camarotti no Vaticano, na véspera do conclave, o presidente da CNBB, Dom Jaime Spengler, teve um momento Nanni Moretti.
O bom católico Gerson Camarotti e o repórter Nilson Klava estão no Vaticano a serviço da GloboNews. Nesta terça-feira, 6, véspera de conclave, Camarotti e Klava entrevistaram Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB, na frente da Casa Santa Marta, onde estão hospedados os 133 cardeais que vão escolher o novo Papa.
“Qual a expectativa”, perguntou Nilson Klava, sobre a escolha do novo Papa.
“Que seja o espírito de Deus a nos inspirar”, respondeu Dom Jaime Spengler.
“Qual o perfil”, insistiu Klava.
“Aquele que o espírito nos indicar. O espírito de Deus dá para cada tempo o homem certo”, devolveu o cardeal.
Impossível não pensar - sem querer agourar - no filme Habemus Papam, de Nanni Moretti. No filme, de 2011, o cardeal Melville é escolhido Papa, ainda que as casas de apostas de Londres pagassem 90 para 1 a quem apostasse em seu nome. Pois o azarão, ao ser conduzido para a benção inaugural do pontificado, na praça São Pedro, simplesmente surta o cabeção e mete o pé.
O Vaticano, zonzo, apela a um renomado psicoterapeuta italiano, interpretado pelo próprio Moretti, para convencer o Sumo Pontífice a ser Sumo Pontífice.
É impagável a cena em que um cardeal adverte o psicoterapeuta de que “os conceitos de alma e inconsciente não podem de forma alguma andar juntos”.
O psicoterapeuta pergunta ao cardeal sobre a possibilidade de falar com o apontado pelo espírito de Deus sobre fantasias e desejos não realizados.
Nem pensar.
“Infância?”, pergunta o profissional.
“Com muita discrição”, responde o cardeal.
“Sonhos?”
“Depende do sonho. Melhor não”.
Pois desde a infância o cardeal Melville tinha o sonho não de ser sacerdote, mais sim o desejo, não realizado, de ser ator. Sabia de cor o teatro de Tchekhov, um dos imbatíveis sobre a natureza humana.
Em outra cena do filme, um guarda suíço enfiado pelo Vaticano no quarto do Papa, para fingir que o Papa estava no quarto, bota Todo cambia pra tocar. Reunidos ali perto, ao alcance da canção, os cardeais, ignorantes de que o novo Pastor de Roma estava zanzando à deriva, por Roma, embarcam na do “Papa” e começam a bater palmas no ritmo de Mercedes Sosa:
Cambia lo superficial
Cambia también lo profundo
Cambia el modo de pensar
Cambia todo en este mundo
Cambia el clima con los años
Cambia el pastor su rebaño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño
No fim do filme, Melville finalmente aparece na sacada, na praça São Pedro, para saudar a multidão. Mas apenas pede desculpas e diz que não é capaz.
Nesta quarta-feira, 7, primeiro dia de conclave, a chaminé da Capela Sistina cuspiu fumaça, mas preta.
Na entrevista à GloboNews, Dom Jaime Spengler teve o seu momento Nanni Moretti. Perguntado pelo “vaticanista” Camarotti sobre “em quanto tempo teremos o Habemus Papam”, o cardeal respondeu primeiramente:
“Isso nós temos que perguntar ao Pai Eterno, porque é Ele quem conduz”.
Mas logo em seguida emendou, com os pés no Reino da Terra:
“Feita esta observação, imagino que em dois ou três dias se chegue a um nome de consenso”.
Sensacional.
hahahhaha o pai celestial, mas nem tanto
Consenso= mercado ?