Da 'Riviera alemã' na Crimeia à 'Riviera Trump' em Gaza
Governo Netanyahu determina plano para “saída voluntária” da Faixa de Gaza; para o deslocamento, mais uma expulsão, de dois milhões de palestinos.
Na I Guerra Mundial, quando o exército do II Reich preconizava no “Leste eslavo” os horrores em larga escala do Reich que ainda estava por vir, funcionários do Kaiser se referiam à Rússia como “uma montanha de vermes, todos apodrecidos, todos pululando juntos desordenadamente”. Na época, com a pax germânica imposta à região que mais tarde seria conquistada pela Wehrmacht nazista, chegou-se a imaginar, entre outros assentamentos, uma “Riviera alemã” na Península da Crimeia.
A informação está no livro “O império de Hitler: a Europa sob o domínio nazista”, do historiador britânico Mark Mazower. Quando a Alemanha perdeu a guerra, a pax germânica virou a “paz esquecida”. Mas, como destacou Mazower, “nem todos esqueceram” - nem todos largaram mão seja do “prêmio oriental”, seja das políticas de limpeza étnica.
Nem todos esqueceram: nem Adolf Hitler, nem Benjamin Netanyahu, nem Donald Trump.
Há quase seis anos, no dia 16 de junho de 2019, Netanyahu inaugurou um - mais um - assentamento ilegal do sionismo nas Colinas de Golã, pedaço da Síria roubado por Israel em 1967, dando ao colonato o nome hebraico de Ramat Trump - “Colinas Trump”. A homenagem foi um agradecimento pelo decreto assinado por Trump em seu primeiro mandato reconhecendo a soberania de Israel sobre Golã, numa grande humilhação para a chamada “comunidade internacional”.
Na cerimônia de inauguração do assentamento que leva o nome de Trump, Netanyahu “justificou” o assentamento, justificou a ocupação como um todo dizendo que “as raízes do povo judeu na Colinas Golã remontam a milhares de anos”. Isso quase um século depois de Heinrich Himmler enviar uma expedição à cordilheira do Himalaia em busca das “raízes da raça ariana”.
Agora, mais de um século depois de enterrada a ideia de uma “Riviera alemã” na Península da Crimeia, Trump levanta a bola de uma “Riviera do Oriente Médio” na Faixa de Gaza. Ato contínuo, o ministro da Defesa de Netanyahu, Israel Katz, determina prontidão do exército sionista para um plano de “saída voluntária” de Gaza; para o deslocamento, mais uma expulsão, de dois milhões de palestinos - “animais humanos”, nas palavras e na cabeça do antecessor de Katz na chefia das IDF, Yoav Galant.
De Sieg Heil em Sieg Heil, parece que, depois das “Colinas Trump”, vem aí a “Riviera Trump”. Ou seria “Riviera Musk”?
Sobre a ideia do Genocide Lounge Resort, Netanyahu elogiou Trump por “pensar fora da caixa”. Na semana passada, a mesma expressão - “pensar fora da caixa” - foi usada por ninguém menos que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para elogiar o novo programa de Giorgia Meloni de despachar para a Albânia requerentes de asilo que chegam em desespero à Itália.
Enquanto isso, na Alemanha, outro titã da “direita civilizada”, Friedrich Merz, que lidera as pesquisas para a eleição de chanceler, acaba de acenar para o partido AfD, neonazista, com uma cadeira na mesa de negociação institucional, dizendo que os votos do AfD seriam bem-vindos para aprovar logo o quê: um pacote de emergência anti-imigração.