De Zambelli ao suplente de Zambelli: mundo pequeno, o mundo do golpismo
O mundo do golpismo é pequenininho, do tamanho de um botão. Passa por “Bolso Jr.”, chega sempre em “El Chefão”.
O mundo do golpismo é pequenininho, do tamanho de um botão.
Nesta segunda-feira, 2, horas antes de a deputada federal Carla Zambelli aparecer de repente no exterior, fugindo do Brasil sob as barbas da PGR e do STF, na trilha de Eduardo Bolsonaro; horas antes, dizíamos, o terrorista George Washington de Oliveira Sousa - lembra dele? - embarcou, com autorização da Justiça, de Brasília para Belém do Pará.
Dois anos e meio após tentar explodir um caminhão tanque no aeroporto de Brasília, no âmbito da conspiração golpista de 2022, e hoje cumprindo pena em regime domiciliar, o terrorista vai passar duas semanas cuidando de “assuntos profissionais” na cidade que se prepara para receber a COP 30. Será que volta? Será que tem passaporte europeu malocado na dinamite? Será mais um trabalho para a Interpol?
Antes da tentativa de atentando em Brasília, George Washington, que morava em Xinguara, no Pará, gastou R$ 35 mil em uma loja de armas de São Paulo, a No Risk, para lutar contra o “comunismo” no Distrito Federal. Um dos itens comprados pelo terrorista na loja No Risk foi um fuzil AR-10 calibre 7,62 da Springfield Armory. Isso foi em agosto de 2022.
Três meses antes, em maio daquele ano, a No Risk postou em suas redes sociais um vídeo de uma deputada federal agradecendo à dona da loja “o carinho de você ter mandado aquela Springfield. Adorei atirar com ela”. Ganha um passaporte italiano quem adivinhar o nome da deputada. Uma dica: fugiu.
Em novembro de 2022, no dia da live “Brasil Was Stolen”, transmitida da Argentina e que ajudou a impulsionar os acampamentos golpistas que começavam a brotar na frente dos quartéis, a No Risk compartilhou em suas redes sociais um outro vídeo, este de um jovem argentino entrevistando bolsonaristas concentrados “contra o comunismo”, falando em “eleições fraudadas” e pedindo “intervenção federal” na frente de um quartel.
O jovem era Giovanni Larosa. Nas eleições de 2022, Larosa era correspondente no Brasil do site argentino La Derecha Diario, cujo proprietário é Fernando Cerimedo, o argentino que apresentou a live “Brasil Was Stolen”. Ao mesmo tempo, Larosa trabalhava na campanha de Eduardo Bolsonaro, a quem chamava de “Bolso Jr.”, e chegou a viajar no avião presidencial com Jair Bolsonaro, a quem chamava de “El Chefão”.
O mundo do golpismo é pequenininho, do tamanho de um botão. Passa por “Bolso Jr.”, chega sempre em “El Chefão”.
Fernando Cerimedo chegou a ser indiciado pela Polícia Federal no inquérito do golpe, mas Paulo Gonet preferiu não denunciar o argentino ao STF, meses antes de comer mosca com Carla Zambelli escapando pela Argentina.
Em 2022, no dia seguinte à live “Brazil Was Stolen”, horas após a live, um deputado federal bolsonarista apareceu de repente em Buenos Aires, em outra live, agora na casa de Cerimedo, para agradecer a “Fernando Sem Medo”, àquele “herói dos brasileiros”, ao “argentino que veio nos socorrer”.
Era o deputado Coronel Tadeu. Ele disse que estava em Buenos Aires “por coincidência”. A última nessa história? Não. Coronel Tadeu não foi reeleito em 2022, mas deve voltar à Câmara dos Deputados nas próximas semanas, talvez nos próximos dias, quem sabe nas próximas horas. O Coronel Tadeu é o suplente de Carla Zambelli.
É ou não é pequenininho, o mundo do golpismo?
Do tamanho de um botão.
Vai assumir em razão da licença que Zambelli pedirá à Câmara, mas quando vier a ser cumprida a decisão da Justiça Eleitoral que cassou o mandato da titular, o suplente dançará e, com ele, Bilinsky e Tiririca.