Delcídio do Amaral, Flavio Bolsonaro
Dez anos antes de a mulher do senador Flavio aparecer em esquema de fuga de Bolsonaro para a Argentina, o senador Delcídio foi preso por propor a Nestor Cerveró fugir do Brasil pelo Paraguai.
Em abril do ano passado, o senador Flavio Bolsonaro falou no programa Roda Viva, da TV Cultura, sobre seu pai ter passado duas noites na embaixada da Hungria, em fevereiro, em pleno Carnaval, quatro dias depois de ter o passaporte apreendido. Perguntado se Jair Bolsonaro tinha intenção de fugir do Brasil, de pedir asilo político, Flavio respondeu enfático: “Não! Claro que não! Isso é história!”, e emendou:
“Não tem por que. Olha o que ele está fazendo pelo Brasil, arrastando gente Brasil afora, mostrando o carinho que o brasileiro tem por ele, pelo bom presidente que ele foi. Não tem esse papo de fugir, de pedir asilo”.
O tempo passa, e nesta quarta-feira, 20, o Brasil inteiro ficou sabendo que dois dias após a apreensão do passaporte de Bolsonaro, e dois dias antes de Bolsonaro se malocar na embaixada da Hungria, o ex-presidente salvou no celular uma carta ao presidente da Argentina, Javier Milei, pedindo “concessão de asilo político à minha pessoa”.
E o Brasil ficou sabendo mais: quem criou e alterou o documento antes de Bolsonaro baixá-lo em seu smartphone foi a dentista Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, mulher, esposa, consorte de Flavio Bolsonaro, o mesmo que na época dizia na TV, sobre seu pai, que “não tem esse papo de fugir, de pedir asilo”.
Há exatamente 10 anos, em 2015, uma década antes de a mulher do senador Flavio Bolsonaro aparecer em esquema de fuga de Jair Bolsonaro para a Argentina, o então senador Delcídio do Amaral foi preso por atrapalhar investigações da operação Lava Jato; por propor ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró “pegar um Falcon 50” para fugir do país, não pela Argentina, mas pelo Paraguai.
À parte a Lava Jato não ter sido operação, mas sim conspiração, bem ao contrário do inquérito e da ação penal sobre a conspiração golpista de 2022; a não ser que Fernanda Bolsonaro, como Mauro Cid, também tivesse “autonomia” para desempenhar certas funções; afora isso, a diferença do caso do senador Delcídio para o caso do senador Flavio parece ser apenas uma, apenas essa: o Paraguai.