Delfim não era Conceição
Disse assim Maria da Conceição Tavares, numa antológica entrevista dada a Luiz Felipe Osório e Maurício Metri em 2019:
“Apesar da idade avançada e da saúde, o importante é nunca se entregar. Não entrego nada. ‘Só me entrego na morte/De parabelo na mão’. Para além de lições e contribuições econômicas, o importante é deixar um sentimento de otimismo e esperança para inspirar as gerações futuras. Eu não desisto deste país. Apesar de todas as desgraças de hoje, eu continuo achando que o Brasil é o país do futuro. O Brasil tem futuro!”.
Foi uma das frases de Conceição mais lembradas, quando Conceição morreu, dois meses atrás: “Eu não desisto desse país”.
Já um outro economista, o mais notório civil da Ditadura civil-militar, signatário do AI-5, esse disse num famigerado depoimento à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, em 2013, que “eu repetiria”.
Referia-se ao seu nomezinho no AI-5.
Nesta segunda-feira, 12, morreu Antônio Delfim Netto e a mídia brasileira saudou o seu “legado”, o seu “milagre”, não sem contar o que foi que ele assinou, a quem foi que ele serviu, mas sem registrar o mais importante, o traço que definia o morto: apesar da idade avançada e da saúde (dois stents nas coronárias), sim, ele repetiria.
Nesta segunda, em uma “nota de pesar” pela morte de Delfim Netto, o presidente Lula equiparou quem nunca desistiu do Brasil a quem nunca sequer se arrependeu do que fez com o país:
“Em um curto espaço de tempo, o Brasil perdeu duas referências do debate econômico no país: Delfim Netto e Maria da Conceição Tavares. Fica o legado do trabalho e pensamento dos dois, divergentes, mas ambos de grande inteligência e erudição, para ser debatido pelas futuras gerações de economistas e homens públicos”.
Quem não desiste do Brasil só leva fumo…