Desculpe, senhor general. Obrigado, senhor general
Novo general quatro estrelas do Exército reclama dos "corações mesquinhos" que criticam a Força Terrestre e se ufana de que a Força arriscou-se "em pleno carnaval" em socorro a brasileiros soterrados.
O Alto Comando do Exército acaba de bater o martelo sobre os três generais que ganharão a quarta estrela na insígnia na mais nova rodada de promoções na caserna. São eles Luiz Gonzaga Viana Filho e Luís Cláudio de Mattos Basto, ambos da infantaria, e Alcides Valeriano de Faria Júnior, da nobre arma da cavalaria do Exército Brasileiro e ex-subcomandante do Comando Sul do Exército dos… Estados Unidos da América, isso mesmo, no governo de Jair Bolsonaro e no primeiro governo de Donald Trump.
Em dezembro de 2023, um ano após a não mui nobre conspiração golpista de Bolsonaro e de altos oficiais graduados das Forças Armadas, o general Alcides, então chefe do Centro de Comunicação Social do Exército, publicou uma espécie de desabafo na revista Verde Oliva, gazeta da família militar editada pelo CCOMSEx.
Em artigo que abriu a edição 264 da revista, o general Alcides defendeu o Exército nos seguintes termos, dois meses após a CPMI do 8/1 pedir o indiciamento de 30 militares por golpe de Estado, quase todos do Exército, incluindo oito generais — cinco deles com quatro estrelas na insígnia:
“Destacam-se nesta edição operações e tarefas não militares que levam risco à integridade física dos integrantes da Força Terrestre, quando no socorro aos habitantes de regiões afetadas por calamidades. Em 1987, elementos do Exército empreenderam tarefas na ocasião do acidente radiológico com Césio 137, na cidade de Goiânia, em 2020 e 2021, lutaram sem temor contra a contaminação da covid-19. Neste ano, o Exército ajudou no esforço de ajuda humanitária aos indígenas Yanomamis, em Roraima, atuou em pleno feriado de carnaval para aliviar o sofrimento da população de São Sebastião, em São Paulo, atingida por tormentas e com toda assistência à população atingida pelos temporais e enchentes ocorridos no mês de setembro, no Vale do Taquari, no estado do Rio Grande do Sul”.
Tudo, escreveu o general mais à frente, “sem aspirar mais que […] os corações mesquinhos lançam-lhes em rosto […]”.
Trata-se de uma referência à Carta a El-Rei de Portugal, ode aos militares escrita por Moniz Barreto a Carlos I, rei de Portugal e Algarves, em 1893 e reproduzida cinco páginas depois do artigo do general Alcides naquela edição da Verde Oliva. O trecho completo referido pelo general é o seguinte:
“Corações mesquinhos lançam-lhes em rosto o pão que comem; como se os cobres do pré pudessem pagar a Liberdade e a Vida. Publicistas de vista curta acham-nos caros demais, como se alguma coisa houvesse mais cara que a servidão. Eles [os militares], porém, calados, continuam guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma”.
Desculpe, general Alcides Valeriano de Faria Júnior, mais novo general de Exército do “invicto Exército de Caxias”; desculpe por nossa vista curta, corações mesquinhos diante do “movimento” (melhor chamar assim) de 2022 e do 8/1. Vocês só queriam, mais uma vez, “guardar a Nação de si mesma”.
Obrigado, senhor general ex-subordinado a autoridades estadunidenses, por arriscar a “integridade física dos integrantes da Força Terrestre” para ajudar brasileiros “em pleno feriado de carnaval”.
Ouvi
"guardar a nação para si mesma"
Ué, mas essa não é uma das funções do Exército?