Dois bandeirões
Quarenta anos depois da imagem histórica da multidão se protegendo da chuva debaixo de uma enorme bandeira do Brasil, em Brasília, no dia da eleição de Tancredo, vimos o que vimos na Avenida Paulista.

“Acabou o ciclo autoritário: Tancredo é o primeiro presidente civil e de oposição desde 1964”, estampou a Folha de S.Paulo em manchete no dia 16 de janeiro de 1985, dia seguinte à eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.
O dia da eleição de Tancredo Neves produziu uma imagem histórica na frente do Congresso: uma multidão eufórica se protegendo da chuva sob uma enorme, gigantesca bandeira do Brasil. Naquele 16 de janeiro, a imagem saiu na capa do Estadão com a legenda: “a bandeira, um abrigo”. “País explode em alegria verde-amarela”, dizia a capa do Globo.
“De repente, caiu uma chuva torrencial em Brasília. Nessa hora, o maior símbolo cívico do país foi grande o suficiente para abrigar quem o procurou. Primeiro, um pequeno grupo. Depois, uma multidão. Dançando, cantando, protegidos pela bandeira, eles subiram a rampa do Congresso”, relatou na época o repórter Luis Fernando Silva Pinto, eufórico também, no Jornal Nacional.
Tancredo morreu sem chegar a tomar posse, após uma série de malfadadas cirurgias no intestino. Na época, a falta de transparência sobre o real estado de saúde do presidente eleito fez surgir teorias conspiratórias, como a de envenenamento.
Neste domingo, 7, Dia da Independência do Brasil, uma multidão envenenada por teorias conspiratórias tarja-preta, fake news e ódio foi à Avenida Paulista para defender golpistas. E fez isso debaixo de uma bandeira extra-extra-large dos Estados Unidos da América, agradecendo aos EUA pelos ataques ao Brasil e pior: pedindo mais.
A imagem, lamentável, está nesta segunda nas capas da Folha, do Estadão e do Globo. É porque, lamentavelmente, ela é histórica também: quarenta anos depois de o maior símbolo cívico do país ter sido grande o suficiente para abrigar quem o procurou ao fim do ciclo autoritário, neste 7 de Setembro, na Paulista, a bandeira do inimigo, posto que enorme, gigantesca, foi pequena para tanto traidor da Pátria.



Me levantou um pouco, a moral.
Bizarro em SP