Eles só querem passear
Omar Aziz é senador desde 2015, eleito democraticamente pelo povo do Amazonas em 2014, em eleições livres. Mas quem foi que deu uma mãozinha?
“Nós temos o direito de passear na BR-319”, esbravejou o senador Omar Aziz (PSD-AM) para Marina Silva na última terça-feira, 27, no Plenário 13, Ala Senador Alexandre Costa, Anexo II do Senado Federal, abrindo os trabalhos da emboscada armada por senadores da Região Norte do país para a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática na Comissão de Infraestrutura do Senado.
“O amazonense tem o direito de ir e vir”, postou depois, no Instagram, Omar Aziz, que é senador desde 2015, eleito democraticamente pelo povo do Amazonas em 2014, reeleito em 2022, em eleições livres. Mas quem foi que deu uma mãozinha para Aziz virar senador, numa época em que ainda podia o financiamento empresarial de campanhas eleitorais?
A construtora J. Nasser Engenharia, por exemplo, investiu R$ 100 mil (R$ 220 mil em valores atuais, na correção pelo IGP-M) para pôr Omar Aziz no Senado. Recentemente, entre 2023 e 2024, a empresa operou dois contratos com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para a reconstrução de pontes desabadas na… BR-319, a estrada inconclusa de 900 quilômetros aberta pela ditadura no meio da Amazônia - a estrada dos sonhos de Aziz.
Os contratos, com valor somado de R$ 46,6 milhões, foram assinados sob dispensa de licitação. Em outubro do ano passado, o Dnit encerrou os contratos com a J. Nasser Engenharia por descumprimento do cronograma das obras.
A Indústria de Papel Sovel da Amazônia chegou junto com R$ 200 mil (R$ 440 mil em valores atuais) para eleger Omar Aziz em 2014. A Sovel acumula denúncias, processos e multas ambientais. Umas delas, de R$ 600 mil, aplicada em 2022 pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), por jogar “no recurso hídrico natural efluentes advindos de esgoto sem qualquer tratamento”.
A fornecedora de refeições GH Macario Bento deu um empurrão de R$ 250 mil (hoje, mais de meio milhão de reais, na correção pelo IGP-M) para jogar Omar Aziz no Senado mais de dez anos atrás - 8% da receita total da campanha. A empresa é propriedade de Gustavo Macário Bento, que em 2019 foi preso por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa numa operação da Polícia Federal.
Na mesma operação foi preso o cunhado de Gustavo Macário Bento, o pecuarista José Lopes, que já foi alvo da PF e do Ministério Público Federal também por grilagem de terras da União. Em 2023, Zé Lopes, como é conhecido, foi multado em R$ 43 milhões pelo Ipaam pelo desmatamento ilegal de mata nativa às margens de outra rodovia federal amazônica, a BR-317.
Zé Lopes atuou na vitoriosa campanha de Omar Aziz para o Palácio Rio Negro, para o governo do Amazonas, em 2010.
A eventual conclusão da BR-319, com o asfaltamento dos 400 quilômetros do trecho do meio da estrada, como quer Omar Aziz, é considerada por cientistas e ambientalistas como vetor de destruição da Amazônia. Seria, na prática, expandir no coração do bioma as fronteiras da grilagem e do desmatamento.
Mas o ataque virulento de Omar Aziz a Marina Silva por causa da BR-319 foi motivado, claro, apenas pela vontade de passear.
Eles só querem passear.