Elétricas: quatro balas contra o pacto de mediocridade que brilha no escuro
Diante do enésimo primeiro apagão da Enel SP, relembre a série de matérias publicada no Come Ananás no ano passado sobre a Enel e sobre o modelo de “concessão” das distribuidoras de energia elétrica.
Em meados de outubro do ano passado, quando um enésimo apagão da concessionária Enel SP deixou diversas regiões de São Paulo cinco dias sem luz, Come Ananás publicou uma série de quatro matérias sobre a concessão paulista do Império Energético Romano, em particular, e sobre a privatização da distribuição de energia elétrica no Brasil, no geral.
Diante do enésimo primeiro apagão da Enel SP, com quase meio milhão de imóveis ainda sem luz na Grande São Paulo na manhã deste sábado, 13, quarto dia de apagão, convidamos o leitor a revisitar ou a ler estas matérias pela primeira vez, por motivos que brilham no escuro, tal e qual reluz no breu o pacto de mediocridade que mantém o Brasil sob dependência energética estrangeira: o modelo privatista de “concessão” das distribuidoras de energia elétrica.
Em “Você é sócio da Light? E da Enel?”, Come Ananás mostrou, a partir desta pergunta retórica que ecoa nas casas pobres e de classe média do Rio da Janeiro sempre que alguém esquece a luz acesa, a porta da geladeira aberta, o ventilador ligado à toa; Come Ananás mostrou, por exemplo, como as decisões sobre a companhia que leva luz ao Vidigal, à Rocinha e à Ilha do Governador tem sido decidido na ilha da Grã-Bretanha, na High Court of Justice da Inglaterra e do País de Gales, pelos “bondholders” súditos do Rei Charles.
'Você é sócio da Light? E da Enel?'
A nenhum órgão da mídia privatista nacional poderá interessar uma pauta, um caso, entre tantos, de desventura das privatizações do Brasil, como é o caso das “concessões” das distribuidoras de energia elétrica, especialmente o seu dramático capítulo paulistano.
Na matéria “Em balanço ao mercado, Enel comemora ‘efeito positivo do clima’ para operação do grupo no Brasil”, trouxemos à luz, com trocadilho, com tudo, que enquanto em São Paulo a Enel dizia em público, no ano passado, que as mudanças climáticas são as culpadas pelos recorrentes apagões, a matriz italiana, prestando contas a investidores, celebrava que “a tendência da demanda na América Latina foi no geral muito positiva, com excelente desempenho no Brasil graças ao efeito positivo do clima sobre o consumo”.
Em balanço ao mercado, Enel comemora 'efeito positivo do clima' para operação do grupo no Brasil
Numa entrevista à Folha de S.Paulo no dia 7 de novembro do ano passado, o “Country Manager” da Enel Brasil, Nicola Cotugno, culpou as mudanças climáticas pelo grande apagão daquele mês na capital paulista. “Não é para nos desculparmos, não, o vento foi absurdo”
Em “Os apagões em São Paulo e as viagens elétricas do diretor-geral da Aneel”, mostramos que Sandoval Feitosa, indicado para o cargo por Jair Bolsonaro e com mandato até 2027, participou do maior evento sobre distribuição e transmissão de energia dos EUA com ingresso pago pela associação que representa, junto à agência reguladora, os interesses das distribuidoras de energia que operam no Brasil. Come Ananás achou a informação em um documento da própria Aneel, um documento do processo interno que autorizou a viagem elétrica de Feitosa.
Os apagões em São Paulo e as viagens elétricas do diretor-geral da Aneel
Há quase um ano, no dia 1º de novembro de 2023, chegou à sede na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em Brasília, uma carta do senhor Dymitr Wajsman endereçada ao senhor Sandoval de Araújo Feitosa Neto. Feitosa é diretor-geral da Aneel. Wajsman é presidente da associ…
Em “Veja só quem tem grau de investimento”, chamamos a atenção da leitora, do leitor, para o fato de que a Fitch, a Moody’s e a Standard & Poor’s mantiveram para a Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo, vulgo Enel SP, uma AAA — não a pilha para lanterna em dia de apagão, mas a nota máxima do grau de investimento —, em avaliações feitas após o grande apagão de novembro de 2023 na Grande São Paulo, quando ficou patente a incapacidade da concessionária para dar conta da maior metrópole da América Latina.
Veja só quem tem grau de investimento
No início de outubro, após a agência de rating Moody’s subir a nota do Brasil e deixar o país a um passo do “selo de bom pagador”, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, empolgou-se a ponto de propor um “pacto social” pelo grau de investimento
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