Em balanço ao mercado, Enel comemora 'efeito positivo do clima' para operação do grupo no Brasil
Enquanto em São Paulo a Enel culpa as mudanças climáticas pelo apagão, matriz italiana celebra a "excelente" demanda de energia no Brasil graças ao "efeito positivo do clima sobre o consumo”.
Numa entrevista à Folha de S.Paulo no dia 7 de novembro do ano passado, o “Country Manager” da Enel Brasil, Nicola Cotugno, culpou as mudanças climáticas pelo grande apagão daquele mês na capital paulista. “Não é para nos desculparmos, não, o vento foi absurdo”, disse Cotugno, referindo-se a rajadas de até 104 quilômetros por hora.
Na entrevista coletiva que deu no último sábado, 12, o presidente da Enel São Paulo, Guilherme Lencastre, pôs a culpa pelo mais novo grande apagão na capital do estado nas rajadas de até 107 quilômetros por hora que sopraram na cidade na última sexta-feira, 11, derrubando novamente centenas de árvores sobre a fiação.
Em entrevista nesta segunda-feira, 14, ao programa Bom Dia São Paulo, da Rede Globo, o diretor de operações da Enel, Dárcio Dias, também culpou o vento recorde - o mais forte registrado em São Paulo em 30 anos - pelo apagão. Na entrevista, o executivo citou “as situações que os eventos climáticos nos têm imposto”.
Entretanto, no número 137 da Viale Regina Margherita, em Roma, sede do Grupo Enel Spa, em vez de queixumes pelos efeitos das mudanças climáticas no Brasil e na operação paulista da sua subsidiária brasileira, em vez disso, parece que há festa.
Come Ananás analisou o mais recente relatório financeiro publicado pelo Grupo Enel e constatou que a corporação transnacional comemora no documento “o efeito positivo do clima” para o aumento da demanda de energia elétrica no Brasil, onde, além de São Paulo, a Enel atua na distribuição de energia no Rio de Janeiro e no Ceará.
“A tendência da demanda na América Latina foi no geral muito positiva, com excelente desempenho no Brasil (+9,4%) e Colômbia (+4,9%) graças ao efeito positivo do clima sobre o consumo”, diz o balanço do primeiro semestre de 2024 divulgado pelo Grupo Enel ao mercado no último 6 de agosto.
O primeiro semestre de 2024 foi o semestre mais quente já registrado na esfera da Terra. Em junho, a temperatura média global no planeta foi 1,22 grau Celsius acima da média do século XX. São Paulo teve o junho mais quente e seco em seis décadas. Na América do Sul como um todo, o calor ultrapassou em 0,51°C o recorde anterior para o mês.
Haja quilowatts-hora!
Grazie all’effetto positivo del clima sui consumi, as remessas da América do Sul para Roma foram tábua de salvação para o Grupo Enel principalmente nos três primeiros meses deste ano, ante os efeitos negativos para a contabilidade romana causados pela queda da demanda de energia elétrica na própria Itália e na Espanha.
“Estes efeitos foram parcialmente compensados por um aumento nas receitas provenientes da venda de eletricidade na América Latina, principalmente na Colômbia, Peru e Brasil”, diz o Grupo Enel em seu balanço do primeiro trimestre de 2024, divulgado ao mercado cinco meses atrás, em maio.
Apenas um trocado
Voltando ao balanço semestral da Enel matriz, nele a empresa participa o mercado que até o dia 30 de junho de 2024 tinham sido ajuizadas 511 ações individuais e seis ações coletivas contra a Enel Brasil por causa do apagão de novembro do ano passado em São Paulo. Ou, como prefere dizer a matriz no relatório, “após os severos eventos climáticos que em 3 de novembro de 2023 atingiram a área de concessão”.
O Grupo Enel informa no documento que no dia 30 de junho de 2024 o valor das ações judiciais coletivas era “indeterminado” e o das ações individuais era de 2,5 milhões de euros.
Para o Grupo Enel Spa, trata-se de não mais que um trocado. Até o dia 30 de junho, o Império Energético Romano tinha registrado lucro líquido de 4,14 bilhões de euros, com “b”, em 2024 - lucro 65% maior na comparação com o primeiro semestre de 2023.