Exorcizar a profecia de Demóstenes Torres
"Sinceramente, independentemente do resultado, eu acho que esse resultado não vai permanecer. A história vem aí em seguida. E tudo aquilo que nós estamos dizendo agora vai passar por uma revisão"

Advogado do ex-comandante da Marinha Almir Garnier na ação penal do golpe, o ex-senador Demóstenes Torres “causou” no primeiro dia do julgamento do chamado núcleo crucial da tentativa de intentona.
Demóstenes prometeu levar cigarro para Bolsonaro “em qualquer lugar”; sugeriu um futuro ministro para o STF, para o caso de Luis Roberto Barroso “se aposentar imediatamente após o julgamento”; usou 20% do tempo da defesa do almirante golpista para bajular, um por um, os ministros da Primeira Turma, especialmente In Fux We Trust.
Na tarde desta terça-feira, 2, a mídia brasileira inundou os portais noticiosos com essas e outras de Demóstenes Torres. Mas vem passando batido justamente aquilo do falatório da velha raposa que merece um pouco de atenção: da tribuna, “solo sagrado da advocacia”, e de careca para careca, Demóstenes precisou de apenas 1% do seu tempo para fazer um misto de profecia, provocação a Alexandre de Moraes e ameaça ao país.
“O problema do arrependimento é que ele vem depois, né? Sinceramente, independentemente do resultado, eu acho que esse resultado não vai permanecer. A história vem aí em seguida. E tudo aquilo que nós estamos dizendo agora vai passar por um crivo, por uma revisão”, disse Demóstenes.
“A história vem aí” e Barroso, que lamentavelmente ainda não se aposentou, já andou dizendo que a anistia será assunto exclusivo do Congresso após a conclusão do julgamento dos golpistas. Como se não houvesse séria controvérsia jurídica, para dizer o mínimo, sobre se é possível a ordem democrática perdoar quem tenta reduzir a própria democracia a pó.
Vêm aí também as eleições de 2026. O provável candidato da fascismo à presidência da República já avisou que reduzirá a pó tudo o que o Brasil avançou contra o golpismo e os golpistas desde 2022, caso ponha os pés no Palácio do Planalto. E caso eles ponham os pés de novo do Palácio, esqueça a celeuma da “pacificação”. Eles vão querer, além de indulto, vingança.
“A história vem aí”, com Trump, com tudo. Após a sentença e a última gota do espumante, ou desde já, será preciso lutar para exorcizar a profecia de Demóstenes Torres. Ciente disso, Alexandre de Moras apareceu nesta terça para o julgamento dos golpistas com pedras na mão contra a anistia e os traidores da Pátria.
E que ninguém se engane: se você não anda por aí com o braço levantado, mão espalmada para baixo, arejando o sovaco direito, a luta contra a profecia de Demóstenes será uma luta por sobrevivência.