Folha: o que não faz a saudade de Paulo Guedes
Saudade assim faz roer; faz querer ser neutro, imparcial, mas só diante de golpistas; amarga que nem jiló.
“Grande general do esquema de corrupção”.
“Maestro da orquestra criminosa”.
“Comandante máximo da propinocracia”.
Estas foram algumas das expressões usadas no dia 14 de setembro de 2016 por Deltan Dallagnol, então chefe de uma força-tarefa do Ministério Público Federal do Paraná - a task force da Lava Jato - ao denunciar Luis Inácio Lula da Silva à 13ª Vara Federal de Curitiba - o playground de exceção permitido a Sergio Moro.
Naquele dia - o dia das bolinhas, dia de powerpoint -, o MPF denunciou Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, sem provas consistentes, apenas com “pedaços da realidade que geram convicção”, nas palavras do procurador.
No dia seguinte, em editorial, a Folha de S.Paulo se referiu desta maneira aos epítetos espalha-brasas dados por Dallagnol a Lula e ao powerpoint usado por Deltan para turbinar a sua farsa:
“Não são só as expressões. Todo o contexto da corrupção sistêmica descrito por Dallagnol converge para Lula, cuja posição central foi repetidas vezes lembrada por recursos visuais”.
Naquele editoral, a Folha chegou a ronronar que, “em denúncia contra Lula na Lava Jato, o MPF usou palavras devastadoras, mas a acusação formal, baseada em provas, tem alcance mais modesto”.
Porém, todavia, entretanto, a Folha intitulou o editorial com um par das “palavras devastadoras” cunhadas por Dallagnol, “Comandante máximo”, mas sem aspas, e pior: usou talvez a mais devastadora delas, “propinocracia”, bem grande e também sem aspas, na manchete do dia - o dia seguinte ao powerpoint day -, logo acima dos “recursos visuais” usados pela Lava Jato.
O resto da história é a história da mídia brasileira como parte integrante da conspiração Lava Jato, esta grande antessala da ascensão de Jair Bolsonaro, do bolsonarismo e do bolsogolpismo.
Nesta quinta-feira, 20, quase dez anos depois de adotar alegremente as expressões de Dallagnol que extrapolavam o que o MP tinha contra Lula, a Folha põe em tintas, na capa da edição do dia, que a denúncia da PGR contra os golpistas “extrapola” o que o MP tem contra Bolsonaro e que Paulo Gonet “turbina” a acusação contra Bolsonaro com “afirmações amparadas em frágil comprovação”.
Ora viva.
O que não faz a saudade de outro Paulo - Paulo Guedes.
Saudade assim faz roer; faz querer ser neutro, imparcial, mas só diante de golpistas; amarga que nem jiló.
Título maldoso.