Gen. Heleno, seu golpismo e sua doença
"E enquanto essas coincidências iam assim coincidindo..."
Nesta sexta-feira, 28, apenas três dias após o general Augusto Heleno fazer check-in num Airbnb do Exército para cumprir pena por tentativa de trucidação da democracia, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, atendeu à defesa de Heleno e defendeu prisão domiciliar humanitária para o general por motivo de mal de Alzheimer.
Segundo Gonet, a gravidade do quadro de saúde do general Heleno foi comprovada por relatórios e prontuários médicos apresentados pela defesa e por um Exame de Higidez Física realizado pelo Comando Militar do Planalto, ou seja, pelo próprio Exército Brasileiro, clube reservado onde o golpista é “muito querido”.
Sobre o histórico clínico de Heleno, consta no despacho de Gonet que “o custodiado é acompanhado em contexto psiquiátrico desde 2018 e, a partir de dezembro de 2024, o quadro passou a ser minuciosamente documentado em relatório médico, firmando-se, em janeiro de 2025, o diagnóstico de demência mista, em estágio inicial, sobreposta a antecedentes de transtorno depressivo e transtorno misto ansioso depressivo”.
Então, portanto, o quadro do velho quadro “frotista” — da turma do general Sylvio Frota, da “linha-dura” da ditadura — passou a ser documentado logo após ele ser indiciado pela Polícia Federal, em novembro do ano passado, e o diagnóstico de Alzheimer saiu às vésperas da denúncia dos golpistas pelo professor Paulo Gonet, em fevereiro deste ano, além de a doença só ter sido informada em ato contínuo à prisão do general, na última terça-feira, 25.
É como Dias Gomes e Ferreira Gullar puseram na peça Dr. Getúlio, sua vida e sua glória, de 1968, ano do AI-5:
E enquanto essas coincidências
iam assim coincidindo,
num clube então existente,
um homem muito ladino
fazia uma conferência
sobre um tema pertinente,
com este título: “Como
se depõe um presidente”.
Na última noite, de quinta para sexta, Jair Bolsonaro teve outra crise de soluços na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Os outros presos do “núcleo crucial” da tentativa de golpe de Estado — um delegado de polícia e mais três oficiais-generais das Forças Armadas — seguem passando bem no xadrez, mas se gritar “hipertensão”, não fica um, meu irmão.





