Generais aprovam reajuste para generais
Em comissão mista do Congresso presidida pelo general Mourão, o general Pazuello, relator do reajuste, concluiu pela compatibilidade e adequação orçamentária e financeira da proposta.
Em meio a tesouras por todos os lados, avançou nesta terça-feira, 8, numa comissão do Congresso Nacional, sob condução do general Hamilton Mourão e relatoria do general Eduardo Pazuello, um reajuste de 9% nos soldos dos militares da ativa, da reserva e de pensionistas das Forças Armadas.
A proposta depende agora de aprovação nos plenários da Câmara e do Senado para se tornar lei. Alguém duvida? O impacto orçamentário será de R$ 8 bilhões só nos dois primeiros anos. É o montante arrecadado pela União em junho com o IOF, imposto regulatório que nas últimas semanas virou pedra angular da luta de classes no Brasil.
O general Pazuello, porém, em seu relatório aprovado nesta terça em votação simbólica, concluiu pela compatibilidade e adequação orçamentária e financeira da proposta.
O governo, por seu turno, não ofereceu resistência ao avanço da matéria. Membro da comissão, o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, nem apareceu para votar. É que os generais Mourão e Pazuello legislaram, sim, em causa própria, mas a proposta é da própria Presidência da República.
Trata-se da Medida Provisória 1293/2025, editada em março pelo palácio do Planalto e que prevê duas etapas para o reajuste verde-oliva, azul-brigadeiro, branco-naval: a primeira, já em vigor, em abril de 2025 e a segunda em janeiro de 2026, com aumentos de 4,5% em cada etapa. O reajuste incide apenas sobre o soldo base da remuneração militar bruta, que é composta ainda por adicionais e gratificações.
Exemplo: as duas filhas do coronel-torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra dividiam até março uma pensão de marechal no valor de R$ 34.965,1. A partir de 1º abril, 61º aniversário do golpe de 64, passaram a dividir R$ 35.571,01. A partir de 1º de janeiro de 2026, passarão a rachar R$ 36.205,01 por mês deixados pelo seu pai instituidor de pensão militar e “pavor de Dilma Rousseff”.
O general de Exército Hamilton Mourão, que em 2015 conclamou o Exército à “luta patriótica” contra o governo Dilma e em 2018 passou para a reserva chamando Ustra de “herói”, Mourão ganhava 36.846,34 até o último 31 de março, passou a ganhar R$ 37.452,34 em 1º abril e ganhará R$ 38.086,34 a partir de janeiro de 2026, mais o salário de senador.
“Não sei nem o que é AI-5, nunca nem estudei para descobrir o que é”, disse o general de divisão Eduardo Pazuello em 2020. Antes da MP 1293/2025, a remuneração militar bruta de Pazuello era de R$ 35.086,68. Com a MP, Pazuello passará a ganhar R$ 36.274,68, mais o salário de deputado.
Nesta terça, apresentando seu relatório na Comissão Mista da Medida Provisória 1293/2025, Pazuello reclamou que, no Brasil, “não têm remuneração significativa” tanto quanto outras carreiras do Estado aqueles que chegam ao “topo da carreira das armas”.