'Gilmar Sutra': as cenas mais picantes do primeiro dia do Fórum Jurídico de Lisboa
Chamar o Fórum Jurídico de Lisboa de "Gilmarpalooza" é tentativa de burlar o sistema brasileiro de classificação indicativa.
Começou nesta quarta-feira, 2, a décima terceira edição do Fórum Jurídico de Lisboa, evento realizado uma vez por ano na capital portuguesa sob a batuta de Gilmar Mendes. Além de Gilmar, outros quatro ministros do STF - o presidente do tribunal, Luis Roberto Barroso, André Mendonça, Flavio Dino e Alexandre de Moraes - estão na capital portuguesa participando do “Gilmarpalooza”, que é como o Fórum de Lisboa costuma ser chamado pelas más línguas.
Chamar o Fórum de Lisboa assim, de “Gilmarpalooza”, constitui, no entanto, tentativa de burlar o sistema brasileiro de classificação indicativa. Apelido mais adequado seria “Gilmar Sutra”, em alusão ao clássico indiano sobre a arte do amor.
Se não, vejamos: o senador Ciro Nogueira, um dos chefes do Centrão, ou seja, da máfia das emendas parlamentares que faz do Executivo seu refém, pois Ciro Nogueira, dizíamos, foi protagonista de um painel do “Gilmar Sutra” sobre… “crise dos incumbentes”. O painel aconteceu no auditório da reitora da Universidade de Lisboa na manhã desta quarta, três meses depois de Ciro Nogueira ser flagrado tramando com “investidores” na avenida Brigadeiro Faria Lima, na sede do BTG Pactual, contra o “incumbente” da Presidência da República do Brasil, o presidente Lula, por motivo de “excesso de assistência social no país”.
E por falar em tramas, “Lisboa não parou a noite inteira”, como já dizia o fado: também participam do “Gilmar Sutra” - e dos seus inconfessáveis saraus paralelos - a “head de Responsabilidade Social” do BTG Pactual, Mariana Oiticica; o diretor jurídico do BTG Pactual, Bruno Duque; a sócia do BTG Pactual Bruna Marengoni; o membro do conselho de administração do BTG Pactual Nelson Jobim; o presidente do conselho do BTG Pactual, André Esteves.
É a segunda vez que André Esteves vai ao “Gilmar Sutra” após Gilmar Mendes trancar um inquérito policial contra André Esteves por fraude em contratos com a BR Distribuidora.
Nesta quarta, no mesmo horário em que Ciro Nogueira explanou sobre “crise dos incumbentes”, por volta das 11:00h, o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Guilherme Caputo papeou, no anfiteatro 6 da Universidade de Lisboa, com o presidente do iFood, Diego Barreto, e com o diretor executivo da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), André Porto, sobre “desafios sociais da automação e IA no mercado laboral”.
Seis das 11 empresas associadas da Amobitec - iFood, Uber, Amazon, Zé Delivery, 99 e Lalamove - são empregadoras acionadas no TST em mais de 500 processos que estão correndo ou já correram no tribunal. A própria Amobitec e quatro das suas 11 associadas - iFood, Uber, Buser e 99 - são partes em mais de 30 processos em tramitação no STF.
Depois do almoço, às 14:00h, no anfiteatro 7, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban, 13 processos em trâmite no STF), Isaac Sidney, dissertou sobre “impactos fiscais de decisões judiciais e métodos adequados de soluções de disputas”. Mais ou menos sobre o mesmo tema - questões fiscais, decisões judiciais, solução de disputas -, Isaac Sidney disse o seguinte no início de junho, referindo-se ao ajuste fiscal: “se não por bem, terá de ser por mal, e isso vale para o Judiciário, Legislativo, Executivo e sociedade”.
E Ronaldo Caiado, que participou de um painel sobre “política de drogas” no “Gilmar Sutra”, nesta quarta, às 15:30h, no anfiteatro 8?
Caiado atravessou o Atlântico para falar sobre isso após usar isso, “política de drogas”, como mote para transformar a polícia de Goiás na quarta mais letal do Brasil e pouco mais de um mês depois de afirmar que “os bandidos podem circular sem ninguém incomodar” por causa da ADPF das Favelas, relatada, por coincidência, por um dos poucos ministros do STF que não costuma frequentar orgias de conflitos de interesses - Edson Fachin.
Já no final do dia, às 17:00h, no anfiteatro 9, o “CEO” do grupo Cosan, Marcelo Martins, brilhou em uma mesa do “Gilmar Sutra” sobre “agenda verde”. No ano passado, o braço de logística do grupo Cosan, a Rumo (14 processos em trâmite no STF) fulgurou no topo, no primeiro lugar da lista das empresas que receberam as maiores multas do Ibama - R$ 57,5 milhões por maus feitos na Mata Atlântica, no Cerrado e no Pantanal.
Estas foram as cenas mais quentes, mais picantes do primeiro dia da XIII Surubada Juscorporativa de Lisboa, do “Gilmar Sutra”. Foi apenas o primeiro dia, que começou com Hugo Motta, notoriamente dado a sacanagens - como no caso IOF -, participando do painel de abertura e terminou com Michel Temer, de insaciável volúpia golpista, pontificando, ensinando o “papai e mamãe” sobre Democracia, supremacia da Constituição, manutenção do Estado de Direito.
Pessoas sensíveis e menores, abster-se.
É de arrepiar.
Esse fórum deveria vir com a tarja "Conteúdo adulto explícito". Quem sabe um novo roteiro de Brasileirinhas não esteja sendo escrito ali? Porque certamente, depois dessa suruba, muita gente, que não eles certamente, vai tomar no rabo.