Jogos antipatrióticos: o perigo real e imediato das ações de Eduardo Bolsonaro (e Tarcísio de Freitas) nos EUA
Há mais coisas entre Jacksonville, na Flórida, e Arlington, no Texas, do que pode imaginar nossa vã defesa nacional.
Saiu nesta quinta-feira, 14, a notícia de que nas próximas semanas o empresário trumpista Erik Prince vai começar a mandar centenas de mercenários para o Haiti para combater uma aliança de gangues no país caribenho, em contrato de 10 anos assinado com o governo haitiano. Em maio, o governo de Donald Trump classificou oficialmente a Viv Ansanm, que é como a aliança de gangues é conhecida, como “grupo terrorista transnacional”.
Entre os mercenários arregimentados por Prince para mandar bala no Haiti estão cidadãos de El Salvador, país da América Central onde os EUA vêm despejando imigrantes venezuelanos para serem torturados nas masmorras de Nayib Bukele, o “presidente” salvadorenho/ditador de estimação de Trump.
Erik Prince, se você não ligou o nome à pessoa, é o fundador da famigerada Blackwater, empresa de “segurança privada” - mercenários - responsável por crimes de guerra quando atuou no Iraque a serviço de George W. Bush. A Blackwater não existe mais. Hoje, é por outra empresa do mesmo tipo, a Vectus Global, que Prince manda mercenários para o Haiti, faz parceria com o governo do Equador e acaba de visitar o Peru a convite de Hernando de Soto, não o conquistador espanhol, mas o oposicionista e pré-candidato a presidente nas eleições peruanas de 2026.
Erik Prince é muito próximo do estrategista-mor de Trump, Steve Bannon, mais próximo ainda da diretora de inteligência nacional de Trump, Tulsi Gabbard, e é membro do conselho de administração da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), entidade de agitação do MAGA-trumpismo. O CPAC promove eventos no Brasil e esses eventos vinham sendo realizados aqui no país com patrocínio da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) e organizados por Eduardo Bolsonaro, antes de Eduardo se mandar para the motherfucking Texas.
Em setembro do ano passado, Erik Prince lançou um site para angariar fundos junto aos “amantes da liberdade na Venezuela” a fim de derrubar Nicolás Maduro. Desde a vitória de Trump nas eleições nos EUA, em novembro, o mercenário vem dizendo que está “de olho” em Maduro. Há uma semana, após Trump oferecer recompensa de US$ 50 milhões pelo presidente venezuelano, Prince afirmou que a recompensa deveria ser por Maduro “vivo ou morto”.
Há poucos meses, em março, um conhecido ex-capitão do Exército da Venezuela radicado na Flórida, Javier Nieto Quintero, disse o seguinte ao jornal britânico The Guardian, referindo-se a Erik Prince: “se ele quiser, podemos fornecer ajuda e apoio em termos de informação, inteligência ou qualquer outra área, em nome da liberdade em nosso país”.
Javier Quintero é conhecido por ter encabeçado junto com um outro mercenário estadunidense, o ex-boina verde Jordan Goudreau, a chamada Operação Gideão, tentativa frustrada de golpe na Venezuela em 2020. Goudreau é fundador da Silvercorp USA, empresa que da Costa Espacial, na Flórida, fornece “a governos e corporações soluções realistas e rápidas para problemas irregulares”.
Em 2018, a Silvercorp fez a segurança de um comício de Donald Trump em Charlotte, na Carolina do Norte, e esteve no Brasil durante as eleições que levaram Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto. Quem revelou a presença da empresa de “segurança privada” de Jordan Goudreau no Brasil naquele ano, naquele período, fazendo sabe-se lá o quê, foi a jornalista Nathália Urban. Nathalia morreu no ano passado, aos 36 anos de idade, após cair de uma ponte em Edimburgo, na Escócia, em circunstâncias que nada têm a ver com este caso.
O ex-capitão venezuelano Javier Quintero vive hoje em Jacksonville, na Flórida, de onde municia, em nome da “liberdade”, agentes estrangeiros interessados em controlar o seu país.
Pegando a Interestadual 95, Jacksonville fica a 560 quilômetros de Doral, também na Flórida, onde fica a sede da CTU Security, a empresa do venezuelano Antonio Emmanuel Intriago Valera com a qual o general Walter Souza Braga Netto fez negócios nebulosos durante a intervenção federal no Rio de Janeiro, em 2018, três anos antes de Tony Intriago liderar a equipe de mercenários que invadiu Porto Príncipe e matou o presidente haitiano Jovenel Moïse.
Pegando a Interestadual 10, Jacksonville fica a 1.600 quilômetros de Arlington, no Texas, de onde Eduardo Bolsonaro faz rigorosamente o mesmo que o capitão Quintero. Faz o mesmo que Quintero e sempre em nome da “liberdade”. Em nome da “liberdade” e no momento em que um oposicionista ao governo do Brasil e provável candidato a presidente do país em 2026, Tarcísio de Freitas, defende durante viagem a Nova Iorque pegar o PCC e o Comando Vermelho, “pegar essas organizações criminosas e classificar como grupo terrorista”.
E no momento em que Trump parece a um passo de pôr a prêmio, depois da cabeça de Maduro, uma reluzente cabeça brasileira também.