'Julio Eduardo' e os desvigilantes rodoviários
Ao contrário dos, digamos, desvigilantes rodoviários de SC, o cão Lobo e o inspetor Carlos não deixariam um criminoso condenado escapulir para o estrangeiro bem debaixo dos seus focinho e nariz.
Condenado a 24 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques alugou um carro em Santa Catarina, onde vivia sob medidas cautelares, arrebentou a tornozeleira eletrônica e fugiu para o Paraguai na noite de Natal. “Julio Eduardo” foi preso no aeroporto de Assunção por uso de identificação falsa ao tentar embarcar para El Salvador.
Na tentativa de fuga, Silvinei Vasques levou junto um cachorro pitbull de nome desconhecido. Já o pastor-alemão do Vigilante Rodoviário chamava-se Lobo e, ao contrário dos, digamos, desvigilantes rodoviários de Santa Catarina, o cão Lobo e o inspetor Carlos não deixariam um criminoso condenado escapulir para o estrangeiro bem debaixo dos seus focinho e nariz.
E foi mesmo em cena digna de seriado de TV que a polícia paraguaia entregou Vasques à polícia brasileira, nesta sexta-feira, 26: por volta das “20 horas da noite”, como diria o advogado do general Heleno, no meio da Ponte da Amizade.
Já é a segunda vez que Silvinei Vasques é preso e toda vez que Silvinei Vasques é preso isto nos faz lembrar que, quase um século depois de Washington Luis vencer uma eleição presidencial dizendo que “governar é construir estradas”, Jair Bolsonaro tentou fraudar uma eleição presidencial botando a PRF para obstruí-las — entre tantos crimes inimagináveis cometidos por Jair Bolsonaro.
O que nem sempre vem à memória, mas deveria, toda vez que Silvinei Vasques é preso é a ação feita pela PRF junto com o Exército Brasileiro na ponte Rio-Niterói no dia do segundo turno das eleições de 2022, simultaneamente às blitze bolsogolpistas no Nordeste.
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Naquele dia, PRF e Exército resolveram montar um ostensivo “monitoramento de veículos e da quantidade de pessoas que estão passando”, em cena digna da ditadura, com caminhões e soldados empunhando fuzis, gerando grande congestionamento no principal acesso à única cidade do estado do Rio de Janeiro com mais de 200 mil habitantes que vinha de vitória de Lula no primeiro turno. O então chefe do Comando Militar do Leste costuma aparecer em listas feitas pela mídia corporativa de generais que teriam resistido bravamente à tentativa de golpe de 2022.
“Vejo as pinturas do barroco holandês como listas — disse certa vez Umberto Eco, numa entrevista à imprensa alemã — as naturezas-mortas com todas aquelas frutas e as imagens de armários opulentos de curiosidades. As listas podem ser anárquicas.”