'Malware pode estar no chip': o general Paulo Sergio e o PowerPoint do golpe
"É possível que um código malicioso tenha sido inserido na urna e fique lá latente esperando algum tipo de acionamento".

Na última terça-feira, 10, dia de interrogatório de réus por golpe de Estado no STF, ninguém se animou para perguntar ao general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, sobre o dia 14 de julho de 2022. Nem o procurador-geral da República, Paulo Gonet, nem o ministro relator da Ação Penal 2668, Alexandre de Moraes, muito menos Luiz In Fux We Trust.
O general Paulo Sérgio é conhecido na “família militar” como GPS. No dia 14 de julho de 2022, quando juízes eleitorais já nomeavam os mesários das eleições, o GPS levou um coronel da ativa do Exército Brasileiro para o Senado da República, um “coronel técnico”, para o “coronel técnico” dizer, dentro do Congresso Nacional, que talvez houvesse um código malicioso nas urnas eletrônicas pronto para ser acionado no dia da votação.
“Em relação à ameaça externa, a gente considera que há sim um grande nível de proteção. A urna não se conecta à internet. Realmente, em relação a uma vulnerabilidade externa, é muito difícil. No que tange a uma ameaça interna, a uma vulnerabilidade interna, a gente ainda não tem disponível a documentação que nos leve a formar uma opinião conclusiva de que a solução é segura em relação a uma ameaça interna. É possível que um código malicioso tenha sido inserido na urna e fique lá latente esperando algum tipo de acionamento”, disse o coronel Marcelo Nogueira de Souza naquele dia, uma quinta-feira, na Comissão de Fiscalização do Senado, com o general Paulo Sergio bem à sua esquerda.

Quatro dias depois daquela audiência no Senado, apenas quatro dias depois, Bolsonaro reuniu embaixadores no Palácio da Alvorada para atacar as urnas eletrônicas e ministros do STF e do TSE perante a “comunidade internacional”. Em sua denúncia dos golpistas, Gonet classificou aquela reunião no Alvorada como um “passo a mais na execução do plano de permanência no poder, independentemente do resultado das urnas”.
O general Paulo Sergio estava lá.

Semanas depois, no dia 4 de agosto, Paulo Sergio assinou um decreto criando formalmente a Equipe das Forças Armadas de Fiscalização e Auditoria do Sistema Eletrônico de Votação, a EFASEV, e nomeou o “coronel técnico” chefe da equipe.
Composta por três militares designados pelos comandos de cada Arma - três do Exército, três da Marinha, três da Força Aérea -, a EFASEV funcionou em 2022 como ponta-de-lança do assédio militar ao TSE, cavalo de Tróia com o qual o Ministério da Defesa azucrinou a Justiça Eleitoral e ajudou Bolsonaro a difundir suspeitas infundadas sobre as urnas eletrônicas.
A audiência pública no Senado na qual o “coronel técnico” do general Paulo Sergio “postou e saiu correndo” uma dessas desconfianças sem fundamentação, a de que as urnas eletrônicas poderiam estar “batizadas” com um código malicioso, foi requerida pelo senador bolsonarista Eduardo Girão. A finalidade era “debater as recomendações dadas pelo Ministério da Defesa ao TSE para o aprimoramento do processo eleitoral”.
As “recomendações” feitas pelos militares ao TSE às vésperas do período eleitoral eram mirabolantes e infactíveis. O coronel Nogueira, no entanto, disse na apresentação do Ministério da Defesa no Senado que, caso as “sugestões” dos militares não fossem acatadas pelo TSE, “um código malicioso” que estivesse “dormente no programa matriz” poderia “ser transmitido e instalado em todas as urnas”.
O coronel chegou a exibir um PowerPoint do malware espalhando-se, bem vermelho, como o PT, por todo o sistema brasileiro de votação eletrônica. Sim a tentativa de golpe de Estado em 2022 também teve o seu PowerPoint.
Veja:
A esta escala de envenenamento da sociedade brasileira às vésperas das eleições, o general Paulo Sergio se referiu a isso como “histórica demanda de transparência das urnas eletrônicas”. Foi o que disse o general naquele 14 de julho de 2022.
Na última terça, no banco do réus, GPS se disse inocente.