Não tem jeito: quando o 'mercado' fala, ouve-se um Bolsonaro
A quem a mídia corporativa costuma recorrer? Em quais figuras costuma incorrer? Que fontes costuma cometer para reverberar a parolagem do “mercado”? Como são feitas as salsichas?
Nas ruas, ou melhor, no número 1234 da Av. Brigadeiro Faria Lima, cumprindo nesta quinta-feira, 4, a pauta “como investidores repercutem o julgamento de Bolsonaro”, um repórter do maior canal de notícias do Brasil leva o microfone à boca de um homem de negócios chamado Jason Vieira.
Ao contrário do seu xará Jason Voorhees, o mudo assassino dos filmes Sexta-Feira 13, Jason Vieira fala bastante — na TV, nos jornais, nos portais. Seu currículo informa que ele tem “forte presença na mídia especializada e nas redes sociais, traduzindo cenários econômicos complexos em estratégias práticas e acessíveis”.
Ou seja: trata-se de um habitué da mídia corporativa, um dos típicos “especialistas” do “mercado” aos quais repórteres costumam recorrer. E a quem a mídia comercial costuma recorrer? Em quais figuras costuma incorrer? Que fontes costuma cometer para reverberar diuturnamente a parolagem do “mercado”? Como são feitas as salsichas?
Jason Vieira, por exemplo, é economista-chefe e sócio da Lev Asset Management (LAM) e postou palmas para “Mr. Orange” no X/Twitter no dia em que Donald Trump assinou o tarifaço contra o Brasil. Na LAM, Jason é sócio do fundador e CEO da firma, Marcelo Cerize, que chama Alexandre de Moraes de “herança maldita de Temer” e pede impeachment do ministro do STF. Marcelo é irmão de Pedro Luiz Cerize, membro do conselho da LAM, “guru” do mercado financeiro e sócio do site antipetista O Antagonista. Como mostrou o De Olho nos Ruralistas no relatório “Os Invasores”, há mais de uma década os irmãos Marcelo e Pedro Cerize tentam expulsar os indígenas Xakriabá de seu território ancestral, no norte de Minas Gerais.
Mas é como o “guru” Pedro Cerize costuma dizer: “quem se importa? Você quer estar certo ou quer ganhar dinheiro?”.
Nesta quinta, no número 1234 da Av. Brigadeiro Faria Lima, sede da LAM, o repórter da Globo News leva o microfone à boca de Jason Vieira para saber como o julgamento de Bolsonaro está batendo na Faria Lima, e Jason manda a letra do que o mercado espera:
“Que a possibilidade de anistia, ainda que não libere politicamente o ex-presidente Bolsonaro, possa trazer um alívio em relação às sanções dos EUA. Se isso acontecer, as sanções começam a perder um pouco de força, ainda que talvez não caiam totalmente. Talvez não atinjam outros ministros. E com isso começa a se desenhar uma pacificação política de curto prazo. Aí, volta-se à discussão da questão das tarifas”.
Por mais que o “mercado” jure de pé junto que não gosta de extremos, não tem jeito: quando o “mercado” fala, ouve-se direitinho um Bolsonaro retinindo num pregão da B3. Ouve-se, cristalina, a voz do filho 03 requisitando anistia para seu pai em troca de “alívio” para o Brasil da parte de “Mr. Orange”.
E a democracia, ó…
Mas quem se importa? Você quer democracia ou quer ganhar dinheiro?
GloboNews é dose. A gente deveria receber adicional de insalubridade por assistir esse canal.