Nós vamos deixar?
É a pergunta que nos chega das gerações passadas, que construíram o Brasil com imensos sacrifícios, diante das imagens de inimigos do povo destruindo o país de dentro do Congresso Nacional.
Sóstenes Cavalcante, Gilvan da Federal, Marcelo Crivella, Osmar Terra, Caroline de Tony, Bia Kicis, Nikolas Ferreira, Evair de Melo, Helio Lopes, Filipe Barros, André Fernandes, Tenente-Coronel Zucco, General Eduardo Pazuello, General Girão, Paulo Bilynskyj, Altineu Côrtes, Zé Trovão, Éder Mauro, Gustavo Gayer, Fernando Máximo, Alberto Fraga.
São apenas 21 dos mais conhecidos entre os cerca de 50 rostos do bolsocentrão e da extrema direita identificáveis na imagem que ilustra este artigo. A imagem foi registrada pelo fotógrafo Bruno Spada, da Câmara dos Deputados, na última quarta-feira, 17, durante a sessão deliberativa na qual a Câmara aprovou a urgência do projeto de lei da anistia a golpistas.
Quando olhei para essa foto, pensei já ter visto esse cenário, essa mesma composição de elementos: rostos com rostos e mais rostos formando um todo “descendo a ladeira”, decaindo na transversal da esquerda para a direita, tendo ao fundo uma sequência de formas verticais.
Na verdade, eu já tinha visto precisamente o contrário: rostos com rostos e mais rostos formando um todo ascendendo em diagonal, tendo ao fundo não as linhas do painel em metal esmaltado de Oscar Niemeyer e Athos Bulcão, no plenário Ulysses Guimarães, mas sim as chaminés da industrialização paulista na década de 1930. Igual mesmo, só que “Operários”, de Tarsila do Amaral, também tem perto de 50 figuras humanas viradas para a frente. Cinquenta e uma, precisamente.
Mas são 51 trabalhadores, não dezenas de inimigos do povo.
Na pintura de Tarsila do Amaral, não está o meu avô. Na pintura de Tarsila, está lá, olhando pra mim, olhando pra gente, o meu avô, o operário Lucídio de Castro e Souza, barbaramente torturado pelos javalis de Eurico Gaspar Dutra por não fugir às lutas mais prementes e consequentes do povo brasileiro.
Eu não tinha visto fascistas, golpistas e traidores da pátria. Não neste enganoso déjà vu. Eu já tinha visto, repetindo, o oposto simétrico, ético, político, histórico: quem construiu o Brasil, não quem está agora mesmo tentando acabar com o país.
Com a autoridade dos seus imensos sacrifícios, as gerações passadas nos enviam uma pergunta, um desafio: nós vamos deixar?
No próximo domingo, 21, lugar de quem não se entrega é na rua!