O candidato e o cometa
A imprensa nunca deu bola para os supostos "investimentos" de Flavio Bolsonaro em negócios miliciano-imobiliários no Rio. Quem sabe agora, com o "investidor" querendo investir no Palácio do Planalto.
Numa coincidência, saíram nesta sexta-feira, 5, tanto a data do julgamento do caso Marielle Franco no STF — fevereiro de 2026 — quanto o nome de Flavio Bolsonaro como o “ungido” por Jair Bolsonaro para disputar a presidência da República no ano que vem. Foi em meio à investigação sobre o assassinato de Marielle, anos atrás, que o Ministério Público do Rio de Janeiro descobriu que a rachadinha de Flavio na Alerj financiou a construção de prédios da milícia na zona oeste carioca.
A informação foi revelada pelo jornalista Sérgio Ramalho em matéria publicada em abril de 2020 no Intercept Brasil. Na época, o Intercept teve acesso a dados e documentos sigilosos levantados pelo MPRJ e ouviu, sob anonimato, promotores e investigadores que atuavam no caso.
De acordo com a investigação, Flavio teria recebido os lucros dos prédios erguidos pela milícia em Rio das Pedras e na Muzema através de repasses feitos por Fabrício Queiroz e pelo miliciano Adriano da Nóbrega, o “capitão Adriano”, executado pela polícia da Bahia em fevereiro de 2020, dois meses antes de a matéria do Intercept ir ao ar dizendo o seguinte:
“O papel de ‘investidor’ nas construções da milícia ajudaria a explicar a evolução patrimonial de Flávio Bolsonaro, que teve um salto entre os anos de 2015 e 2017 com a aquisição de dois apartamentos: um no bairro de Laranjeiras e outro em Copacabana, ambos na zona sul do Rio. Os investimentos também permitiram a compra de participação societária numa franquia da loja de chocolates Kopenhagen”.
O título da matéria de quase seis anos atrás do Intercept Brasil é “Pica do tamanho de um cometa”, alusão a uma frase dita por Queiroz em um áudio divulgado pela imprensa em 2019: “o MP está preparando uma pica do tamanho de um cometa para empurrar na gente”. Investigadores ouvidos pelo Intercept acreditavam que Queiroz sabia e se referia à descoberta do envolvimento de Flavio no real estate miliciano.
Os cometas, na verdade, variam de tamanho. O 3I/ATLAS, por exemplo, chegará o mais próximo da Terra no dia 19 de dezembro com seus até 5,6 quilômetros de diâmetro de núcleo, sendo o maior objeto interestelar já observado.
Os Bolsonaro conseguiram, até agora, estancar essa sangria — as investigações do poder público sobre o rachid mais famoso da galáxia, o de Flavio na Alerj. Ao longo desses anos, a imprensa “de referência” nunca pareceu interessada em pegar carona nessa cauda de cometa, em puxar o fio da suposta ligação de um senador da República com os negócios miliciano-imobiliários na zona oeste do Rio de Janeiro, nem quando se confirmou que Marielle foi executada porque foi percebida como ameaça por operadores deste mesmo ramo criminoso.
Quem sabe agora, com o “investidor” querendo investir, “ungido”, em nada menos que o Palácio do Planalto.




