O 'companheiro Galípolo' e a quinta camada da atmosfera
Os vigilantes do Comitê de Desaceleração da Economia (Copom), que na verdade nunca usaram máscaras, não enxergam classes sociais, apenas “classes de ativos”, e farão de tudo para defendê-las.

O comunicado emitido pelo Banco Central (BC) na última quarta-feira, 18, após novo aumento da taxa básica de juros - para o maior patamar em 20 anos - parece menos um documento de órgão público e mais um manifesto de vigilantes mascarados, ao sinalizar “parada” no ciclo de alta da Selic, mas, porém, entretanto:
“O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”.
A imprensa corporativa diz que “foram claríssimos” os recados distribuídos pelos nove vigilantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central:
“A resiliência da economia brasileira, com crescimento do PIB em níveis sólidos e mercado de trabalho aquecido, pode pressionar a inflação, sobretudo no setor de serviços”.
“O BC reconhece que os juros estão em um patamar elevado, suficiente para desacelerar a economia”.
Trocando em miúdos: diante a resiliência da economia em cenário global lazarento, como o Bacen tem ajudado o Brasil? Fazendo o “suficiente para desacelerar a economia”.
Eis a loucura da razão econômica que rege este santo mandamento do neoliberalismo, o regime de metas de inflação, e sua equipe de vigilantes privados que montam guarda e distribuem ameaças claríssimas de dentro de autarquia federal.
O Banco Central do Brasil é hoje “independente”, com seus diretores cumprindo “mandatos fixos não coincidentes com o do presidente da República”. Mas olha que nem precisava disso, não: dos nove atuais integrantes do Copom, sete foram indicados pelo presidente Lula.
A começar pelo “companheiro Galípolo”.
A terminar com Nilton David, um antigo “operador de ouro, moedas, futuros e derivativos de taxas de juros” pinçado da tesouraria do Bradesco e enfiado na diretoria de Política Monetária do BC para tomar decisões que irão consternar ou divertir operadores de derivativos de taxas de juros.
E tem sido uma diversão sem fim, a farra dos juros exosféricos.
“Eu terei a coragem”, garantiu Gabriel Galípolo, decidido, resoluto, em outubro do ano passado, em sua sabatina no Senado Federal, respondendo a um senador bolsonarista se teria colhões para resistir a pressões para que o juros do Brasil baixem um pouco, pelo menos um pouquinho, da quinta camada da atmosfera.
Os vigilantes do Comitê de Desaceleração da Economia, que na verdade nunca usaram máscaras, não enxergam classes sociais, apenas “classes de ativos”, e farão de tudo para defendê-las.
Para defender o seu programa, e ao contrário de nós, eles não têm hesitado e não hesitarão.