O fascismo está aí, 'mas a caneca é mais cara'
A próxima edição do Oscar deveria incluir a categoria Melhor Maquiagem e Penteado da Polarização.
A deputada estadual do Minnesota Melissa Hortman, do Partido Democrata, e seu marido, Mark, foram assassinados na manhã deste sábado, 14, na cidade de Minneapolis por um eleitor de Donald Trump disfarçado de policial. No mesmo dia, o mesmo homem, Vance Boelter, de 57 anos, tentou matar o senador estadual John A. Hoffman, também do Partido Democrata, e sua esposa, Yvette. John e Yvette levaram vários tiros, mas sobreviveram.
Vance Boelter, que está foragido, foi descrito por um vizinho como “um cristão que se opõe veementemente ao aborto”. Ele é um ex-funcionário de uma funerária na região de Minneapolis que de repente apareceu pregando contra pessoas gays e transgênero numa igreja na República Democrática do Congo: “o inimigo penetrou profundamente em suas mentes e almas”.
A polícia apreendeu na casa do assassino uma lista com mais de 70 alvos, entre médicos, líderes comunitários e vários outros políticos, todos, 100%, do Partido Democrata. Mesmo assim, mesmo diante de tudo isso, O Globo resolveu pôr o chapéu “polarização violenta” em matéria no site do jornal sobre o duplo assassinato e a dupla tentativa de homicídio deste sábado no Minnesota.
“Polarização violenta”: como se eleitores democratas, defensores do direito ao aborto e ativistas LGBTQIA+ andassem por aí vestidos de agentes do Departamento de Polícia de Minneapolis para bater na porta e depois atirar em políticos do Partido Republicano.
A próxima edição do Oscar deveria incluir a categoria Melhor Maquiagem e Penteado da Polarização. O Brasil iria ar-ra-sar! Os editoriais “Uma escolha muito difícil” entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, publicado pelo Estadão entre o primeiro e o segundo turnos das eleições de 2018, e “Jair Rousseff”, da Folha, estariam entre os favoritos.
Fernando Gabeira também estaria no páreo com a pérola suprema da pusilanimidade diante do mais escancarado fascismo produzida por ele em 2021, ao comentar na TV o histórico discurso feito por Lula após a anulação das condenações da Lava Jato: “existem antipetistas e antibolsonaristas. Eu não sou nenhum dos dois”.
Toda a mídia brasileira mereceria um Oscar de Conjunto da Obra, ou Honorário, pela cobertura do assassinato do tesoureiro do PT no Paraná por um policial penal bolsonarista, em 2022. É possível visualizar Bela Gil subindo ao palco da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para entregar o prêmio e dizendo assim aos representantes da mídia oligárquica: “vocês podem substituir ‘violência política’ por ‘violência bolsonarista’”.
Mas difícil mesmo de bater seria uma matéria publicada em 2023 na Folha. Cotejando, acareando, comparando a Bolsonaro Store e a Loja do PT, dizia assim o título da favorita, da grande barbada do Oscar de Melhor Maquiagem e Penteado da Polarização, numa homenagem à precificação que o “mercado” costuma fazer entre Democracia e barbárie:
“Loja do PT tem mais variedade que a de Bolsonaro, mas caneca é mais cara”.
O bolsonarismo, versão do fascismo no Brasil, é sórdido e hediondo, características essenciais ao fascismo. Mas a Globo, herança maldita da ditadura militar, é pior. Constitui uma matriz essencial à manutenção da enorme opressão a que o povo brasileiro é submetido. Com pretensões a eternizar seu poder, sem paralelo em termos de mídia em qualquer país do mundo: para comemorar os 60 anos, a Rede Globo põe no vídeo a vinheta "Globo 100 anos". A Globo é uma fábrica incessante de bolsonaros,