O guarda da esquina que queria ser Hitler e a primeira escola do Brasil dirigida por guardas municipais
Secretário de Segurança de Campo Grande foi flagrado elogiando Hitler e dizendo: "eu queria ser um terço daquele líder". Ele lidera a militarização das escolas públicas da capital sul-mato-grossense.
Criado em setembro de 2019 por Jair Bolsonaro, por decreto, o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares foi extinto em julho do ano passado por um decreto de revogação assinado pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e pelo ministro da Educação, Camilo Santana.
Ainda na vigência do programa, a Secretaria de Educação de Campo Grande (MS) inscreveu uma escola da sua rede de ensino para seguir o caminho da militarização. A inscrita foi a Escola Municipal Governador Harry Amorim Costa, no bairro Guanandi, onde a renda média mensal da população não passa de R$ 707,33.
De certa forma fazia sentido: o nome da escola é uma homenagem ao ex-governador biônico Harry Amorim Costa, homem de confiança do general Ernesto Geisel nomeado pela ditadura em 1979 para ser o primeiro governador do recém-criado estado do Mato Grosso do Sul.
“A única unidade da rede que estava com o projeto para se tornar cívico-militar era a Escola Municipal Governador Harry Amorim Costa, no entanto, isso não ocorreu devido ao não recebimento de nenhum incentivo financeiro por parte do Programa Nacional”, pronunciou-se a secretaria de Educação de Campo Grande, em nota, quando o programa foi extinto.
Mas a gestão da prefeita bolsonarista Adriane Lopes (PP) logo deu um jeitinho: meses depois, em maio deste ano, foi inaugurada na capital do Mato Grosso do Sul a primeira escola do Brasil dirigida por guardas civis, mas com pegada militar: a Escola Civil Metropolitana Harry Amorim Costa, dirigida pela Guarda Civil Metropolitana campo-grandense.
No dia da inauguração do “novo modelo educacional”, Adriane Lopes afirmou lá no bairro Guanandi que o objetivo do projeto-piloto do Programa Escola Civil Metropolitana é formar “cidadãos de bem”. Vindo de uma bolsonarista, isso só arrepia menos do que policiais, em vez de educadores, fazendo “ações de combate ao bullying” e “busca ativa dos alunos nos casos de evasão escolar”.
Um “Manual dos Pais” enviado aos responsáveis pelos alunos da Harry Amorim Costa ainda em fevereiro dizia assim sobre os novos tempos, assim mesmo, em caixa alta: “TUDO QUE SE REFERE A CONDUTA DE ALUNOS SERÁ TRATADO COM A GCM”.
A transformação da Harry Amorim Costa em Escola Civil Metropolitana, já que em Escola Cívico-Militar não foi possível, é uma realização da Secretaria de Educação de Campo Grande em parceria com a Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social do município.
O secretário de Educação de Campo Grande, Lucas Bitencourt, é um ex-coordenador da União Centro-Oeste Brasileira, entidade que reúne mais de 1.600 congregações da Igreja Adventista do Sétimo Dia nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal.
Quem fala como o pai do jeitinho, porém, é o secretário de Segurança de Campo Grande, o guarda civil de carreira Anderson Gonzaga da Silva Assis: “como nós já estamos nas escolas municipais, levamos a proposta à Prefeitura, que analisou e aceitou”.
Nas últimas horas, vem circulando nas redes sociais um áudio do GCM Gonzaga, como o secretário é conhecido, dizendo assim em uma reunião com um grupamento da GCM de Campo de Grande:
“Eu até admiro Hitler. A Alemanha é a potência que é hoje graças ao Hitler. Foi ditador, sim, mas conquistou o que conquistou graças à estratégia e à inteligência dele. Eu queria ser um terço daquele líder, principalmente com esse grupamento aqui”.
Na Escola Harry Amorim Costa, a militarização promovida pelo guarda da esquina que queria ser Hitler - ou pelo menos “um terço desse líder” - trouxe como primeira mudança a transformação do corpo discente de 520 crianças e adolescentes em grupamento obrigado à formação de "ordem unida", todos os dias, antes da marcha para as salas de aula.
Obrigado Sr Hugo Souza por divulgar o nosso projeto, mesmo de forma distorcida, parcial, míope, ideológico e sem plenitude de conhecimento. Convido a visitar nossa escola para ter uma nova visão e terás um novo conceito livre de preconceitos e difamações. Meu coração é grato por você, pois foi usado para promoção do nosso trabalho. Sinta-se perdoado.