O julgamento dos golpistas e o 'Departamento de Guerra'
Referindo-se ao julgamento de Jair Bolsonaro, porta-voz da Casa Branca diz alto e claro que Trump pode usar "poder econômico e militar" para "proteger a liberdade de expressão ao redor do mundo".

Sabemos que estão todos de olhos postos no voto de Luiz Fux no julgamento dos golpistas no plenário da Primeira Turma do STF, mas — ou por isso mesmo — dê uma olhada no que acontece lá fora.
15 de agosto
A setorista de Pentágono da CNN, Natasha Bertrand, revela que Donald Trump estava despachando o Grupo Anfíbio de Prontidão Iwo Jima e a 22ª Unidade Expedicionária de Fuzileiros Navais, com seus mais de quatro mil combatentes, para reforçar as tropas do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM), “como parte de um esforço intensificado para combater cartéis de drogas” na América Central, Caribe e América do Sul.
19 de agosto
O chefe do SOUTHCOM, almirante Alvin Holsey, reúne-se em Buenos Aires com chefes militares de toda a América do Sul, menos da Venezuela. Mesmo com o Brasil sob o ataque do tarifaço e classificado pelo governo Trump como “ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional” dos EUA, o ministro Múcio Monteiro envia o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante Renato Rodrigues de Aguiar Freire, para atender ao chamado de Holsey, para tratar com Holsey, nas palavras do chefe do SOUTHCOM, dos “desafios e ameaças que se estendem da Cordilheira dos Andes ao Estreito de Magalhães”.
29 de agosto
O secretário de Estado de Trump, Marco Rubio, visita o almirante Alvin Holsey na sede do SOUTHCOM, na Flórida.
2 de setembro
Jason Miller, dono da rede social Gettr, conselheiro de Trump e ligado a Eduardo Bolsonaro, diz, referindo-se a Alexandre de Moraes, que os EUA “não negociam com terroristas”, semanas depois de a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, referir-se a Nicolás Maduro como “um dos maiores narcotraficantes do mundo”. No mesmo dia, Trump diz que o SOUTHCOM mandou um barco pelos ares no mar do Caribe, matando “11 narcoterroristas”. Ainda naquele dia, na base de Fort Sam Houston, no Texas, o general Phil Ryan e o general Luis Cardozo Santamaría assinam 47 ações acordadas entre o Exército dos EUA e o Exército da Colômbia (sim, a Colômbia de Gustavo Petro), organizadas em três linhas principais, entre elas “combater organizações criminosas transnacionais”.
4 de setembro
Trump se reúne com os chefes das big techs em jantar de beija-mão na Casa Branca. Todos, inclusive Tim Cook e Bill Gates, enaltecem a “liderança” do anfitrião. No mesmo dia, Marco Rubio é recebido no Equador pelo presidente Rafael Noboa. Em Quito, Rubio anuncia a classificação dos grupos criminosos locais Los Choneros e Los Lobos como “organizações terroristas estrangeiras”. Dois dias depois, Noboa destitui a cúpula militar que estava à frente das operações do “conflito armado interno”.
5 de setembro
Trump assina ordem para mudar o nome do Pentágono. Agora, Natasha Bertrand é setorista da CNN no “Departamento de Guerra”. Caso o novo nome fosse “Departamento das Big Techs”, não estaria em desconformidade com a missão a ser cumprida mundo afora.
7 de setembro
No Dia da Independência do Brasil, dezenas de milhares de bolsonaristas desfilam na Avenida Paulista tendo como alegoria principal uma imensa bandeira da potência que classifica o Brasil como ameaça e ataca a soberania brasileira. Na Paulista, o principal orador pela anistia a golpistas é o governador MAGA que anda em campanha por “pegar essas organizações criminosas [PCC e Comando Vermelho] e classificar como grupo terrorista”.
8 de setembro
O secretário das Big Techs, desculpe, o secretário da Guerra dos EUA, Pete Hegseth, visita a frota do SOUTHCOM no Caribe. A bordo do navio de assalto anfíbio USS Iwo Jima, usando o rádio do navio, Hegseth diz aos fuzileiros navais que não é “se”, mas “quando” o “poder militar” dos EUA será acionado na região, aparentemente “apenas” contra a Venezuela, mas aí…
9 de setembro
… aí a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, referindo-se ao julgamento de Jair Bolsonaro, diz alto e claro que Trump não hesitará em usar “poder econômico e militar” para “proteger a liberdade de expressão ao redor do mundo”. Pior que isso, só mesmo declaração de guerra. Mesmo assim, horas depois, um conhecido jornalista paulista-despenteado radicado em Nova York diz na TV que “não seria jornalismo sério falar que os EUA podem vir a atacar o Brasil militarmente”.
Então tá.