O lavajatismo como jurisprudência
Lula terá que pagar honorários de advogados de jornalistas da IstoÉ que publicaram "reportagem" que não parava em pé, mas que, segundo os advogados, faziam sentido na época - a época da Lava Jato.
O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou nesta quarta-feira, 9, que o presidente Lula pague os honorários dos advogados de dois jornalistas da IstoÉ, após o tribunal rejeitar um pedido de indenização feito em 2017 pelo hoje presidente por causa de uma “reportagem” intitulada “Levei mala de dinheiro para Lula”, publicada pela revista naquele ano.
A “reportagem” foi baseada única e exclusivamente no que dizia um “sócio de acionista da Camargo Corrêa”. O homem, que já tinha dito que Dilma Rousseff havia encomendado o vírus da Zika para desviar a atenção de problemas do seu governo, afirmara à IstoÉ que tinha levado uma mala com propina para uma pessoa que entregaria o dinheiro a Lula.
E a IstoÉ publicou IstoAí: uma história que não parava em pé.
Um dos autores da peça “Levei mala de dinheiro para Lula” é o mesmo que no ano anterior, 2016, tinha assinado, na mesma IstoÉ, o clássico do antijornalismo e da misoginia intitulado “Uma presidente fora de si”, sobre Dilma, levado à capa da revista sob a manchete “As explosões nervosas da presidente”.
Em matéria sobre a decisão do TJ-SP publicada nesta quinta-feira, 10, o UOL informa que os advogados aos quais Lula foi condenado a pagar R$ 150 mil disseram no processo que as declarações faziam sentido no cenário político da época, que trazia Lula para “o centro de um escândalo de corrupção”.
A justiça brasileira, pelo visto, agora aceita o lavajatismo como jurisprudência.
Ainda segundo o UOL, “o relator do processo, desembargador James Siano, afirmou na decisão que, à época, ‘inexistiam indícios concretos da falsidade das informações veiculadas’”.
“Inexistiam indícios concretos da falsidade”.
E nós que pensávamos que a imprensa precisasse confirmar a veracidade das informações que veicula, em vez de dizer que não vê motivos para não levar alguém à cruz; que seria bom pelo menos a imprensa encontrar indícios concretos de verdade, além das histerias coletivas açuladas por ela própria, para publicar acusações de fonte duvidosa, no mínimo duvidosa.
A Lula, cabe recurso.