O 'marechal' Augusto Heleno
E o "general" Wilson Machado.
Mencionamos na semana passada, aqui no Come Ananás, o que disse o general Augusto Heleno ao Estadão em 2019 por ocasião dos 55 anos do golpe contra o governo João Goulart e da instalação da sanguinária ditadura civil-militar no Brasil: “eu era aluno do segundo ano científico do Colégio Militar do Rio de Janeiro. Morava na Tijuca, no Largo da Segunda-Feira, e vibrei com a queda de João Goulart, um cancro na política brasileira.”
O general Heleno acaba de pedir para cumprir em prisão domiciliar sua pena de 21 anos por tentativa de golpe de Estado, não por “cancro”, mas por Alzheimer. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, concordou. Alexandre de Moraes deu cinco dias para a defesa do general comprovar a doença por A mais B.
Sendo como for — cumprindo pena seja em casa, seja numa sala especial no Comando Militar do Planalto —, dificilmente o general Heleno voltará a caminhar livremente pelo Largo da Segunda-Feira, ao contrário do capitão do Exército Wilson Luiz Chaves Machado, que tentou explodir uma bomba no Riocentro em 1981, para prolongar a ditadura, e seis meses depois já passeava tranquilamente pelas ruas da Tijuca, conforme registrado por Janio de Freitas em uma crônica publicada naquele ano na Folha de S.Paulo e que a Folha republicou neste fim de semana em seu site — uma das 105 crônicas selecionadas pela Folha para comemorar os 105 anos do jornal.
“Passeia livre e à vontade, capitão Wilson, por esta pracinha algo melancólica da Tijuca, e penetra mais nos subúrbios e visita a Zona Sul, passeia livre e à vontade para que possas ver, pela amostra carioca, esta gente generosa que trabalhará para sustentar-te. E que às vezes, para recompor-se, vai a lugares como o Riocentro para ouvir canções que falam de liberdade, de amor entre as pessoas e de outras coisas que desconheces porque só te ensinaram a ficar à espreita nos estacionamentos, a lidar com armas e bombas, a extrair a fogo respostas ou vidas. Indiferentemente”, escreveu Janio de Freitas naquele artigo.
Vale a pena ler o artigo do Janio na íntegra. É uma paulada e tanto.
Ainda vivo e nunca punido, o antigo capitão Wilson Machado é hoje um coronel reformado que recebe aposentadoria militar no “posto de pagamento” de general de duas estrelas, cerca de R$ 30 mil brutos por mês. Já o velho habitante do Largo da Segunda-Feira foi condenado e isto é um avanço. Ele é general de quatro estrelas da reserva e custa à gente generosa que trabalha para sustentá-lo R$ 38 mil por mês em remuneração básica bruta, no “posto de pagamento” de marechal.



