O PGR, a 'musa golpista' e o almirante de esquadra
“Eu não sei o que está por vir/Vamos vencer por que eu não estou só”.
A cantora gospel Fernanda Ôliver foi presa no dia 17 de agosto de 2023, na 14ª fase da Operação Lesa Pátria, por incentivar e participar do atos golpistas de 8 de janeiro de 2022; por ajudar a organizar a “festa da Selma”. A cantora transmitiu o assalto à Praça dos Três Poderes ao vivo em suas redes sociais.
Consta que às vésperas do 8/1 houve uma espécie de turnê de Fernanda Ôliver em palcos montados - financiados. Por quem? - nas concentrações golpistas na frente de quartéis.
Em suas apresentações, Fernanda Ôliver cantava uma versão em português da música “Stand Up”, da britânica Cynthia Erivo. A música logo ficou conhecida entre os adoradores de golpe e de pneus como o “hino das manifestações”, cujo refrão dizia assim:
“Então eu me levanto/Levo meu Povo comigo”.
Na época, políticos bolsonaristas, como o deputado-federal Zucco, usavam o “hino das manifestações”, de Fernanda, como trilha sonora para postagens golpistas nas redes sociais.
Zucco, que postava ao som de Fernanda Oliver que “o Brasil foi roubado”, jamais teve a PF batendo em sua porta, nem a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Fernanda Oliver, ela mesma, já está em liberdade, e nem usa tornozeleira eletrônica.
Fernanda foi solta por Alexandre de Moraes no início de novembro de 2023, menos de três meses após ser presa, graças a um acordo de não persecução penal costurado por seus advogados com a Procuradoria-Geral da República e homologado por Moraes.
Enquanto outros bolsonaristas que atacaram a Praça dos Três Poderes cumprem penas de mais de 10 anos de prisão, a “musa golpista” teve apenas que pagar R$ 5 mil e fazer um curso sobre democracia.
O acordo com a PGR foi costurado pelo escritório Demóstenes Torres Advogados Associados, do ex-senador Demóstenes Torres.
Nesta quarta-feira, 5, o PGR, Paulo Gonet, esteve no escritório Demóstenes Torres Advogados Associados para um almoço de confraternização com o anfitrião e outros “conservadores”, como Ives Gandra Filho e Ricardo Salles.
Nesta quarta, tratando do regabofe, Come Ananás mostrou que Demóstenes Torres é hoje advogado do ex-comandante da Marinha Almir Garnier, indiciado no inquérito do golpe e que pode ser denunciado por Gonet ao STF por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Ou pode ser que nem por isso.
Dizia ainda o “hino das manifestações”, na voz de Fernanda Ôliver:
“Eu não sei o que está por vir/Vamos vencer por que eu não estou só”.