Ordem dos Advogados de Bolsonaro, é?
OAB divulga carta criticando "medidas severas" da Justiça contra os que tentaram instalar, de novo, uma ditadura no Brasil. Como se não bastasse, carta termina mimetizando bordão bolsonarista.

No início da tarde de um dia de agosto de 1980, portanto há exatos 45 anos, no sexto andar do número 210 da avenida Marechal Câmara, Centro do Rio de Janeiro, dona Lyda Monteiro da Silva voltou do almoço, acomodou-se em sua mesa de trabalho, pegou uma carta, abriu e morreu.
Ou melhor: dona Lyda foi morta, assassinada, trucidada com bomba pela ditadura. O atentado à sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que vitimou a secretária da presidência da entidade, aconteceu no momento em que o então presidente da ordem e destinatário da carta-bomba, Eduardo Seabra Fagundes, insistia na identificação dos agentes da ditadura responsáveis pelo sequestro e agressão do jurista Dalmo Dallari.
A história da OAB é de defesa da Democracia, tendo sido, a entidade, um pilar na luta da sociedade civil contra a ditadura. O dia 27 de agosto, dia em que dona Lyda foi assassinada, virou Dia Nacional de Luto dos Advogados. O Museu Histórico da OAB em Brasília se chama Museu Lyda Monteiro da Silva. A mesa de trabalho de dona Lyda, com as marcas do atentado, está até hoje exposta no Memorial da OAB, também na capital federal, para quem quiser ver.
Para quem quiser ver.
No início da noite desta quinta-feira, 7, o Conselho Federal da OAB enviou uma carta também, a “Carta da Ordem dos Advogados do Brasil ao país”. Nela, a OAB diz que “não pode se calar”. Diante do quê? Da segunda tentativa de golpe em menos de três anos, a que se viu nesta semana no Congresso Nacional? Do fato de que o bolsonarista que tentou explodir uma bomba no aeroporto de Brasília, para instalar ditadura, está foragido, quem sabe instalando bombas em aviões da Azul, após conseguir progressão de pena com ajuda de algum afiliado da ordem?
Não.
Neste adiantado da ameaça de volta dos que querem a volta da ditadura no Brasil, a OAB “não pode se calar” diante da “prisão e imposição de medidas cautelares severas contra réus ou investigados em processos criminais, determinadas sem trânsito em julgado”.
Se dona Lyda pegasse essa carta também, ficaria confusa: “por acaso, mesmo depois de me matarem, OAB agora é sigla para Ordem dos Advogados de Bolsonaro, aquele da bomba-relógio na adutora do Guandu? Ordem dos Advogados de Bolsonaristas, preocupada com medidas severas contra aqueles que atentaram contra a Democracia brasileira vestindo terno, farda ou camiseta ‘Meu partido é o Brasil’?”.
É, dona Lyda… Sabe qual é a última frase da carta? Sabe como o Conselho Federal da OAB termina a “Carta da Ordem dos Advogados do Brasil ao país”? Mimetizando, dona Lyda, mimetizando bordão bolsonarista:
“Nosso lado é o Brasil”.
De lascar, heimm??? Estamos bem ferrados!!
Inacreditável 8-(