Os 'Republicanos' de araque e os republicanos até demais
Não, mobilizar as pessoas contra a máfia das emendas parlamentares que se infiltrou no Congresso Nacional não é o mesmo que açular as pessoas contra o STF para fins de golpe de Estado.

Ungido e crismado nas redes sociais como “inimigo do povo”, por sabotar até um mínimo de taxação dos super ricos, por fazer o governo de gato e sapato em praça pública na questão do IOF, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, apareceu reclamando que “querem criar a polarização social” no Brasil.
Falou o deputado mais votado nas últimas eleições gerais no estado mais desigual do país. Na Paraíba de Hugo Motta, é “nós contra eles” na veia, baby: quase metade da população vive na extrema pobreza e o rendimento médio do 1% mais rico é 345 vezes maior que o dos 5% mais pobres. Motta, por exemplo, declarou à Justiça Eleitoral, nas últimas eleições gerais, que tinha “50% de aeronave” e R$ 250 mil em espécie, só em cash, guardados em mansão em João Pessoa.
Um senhor chamado Valdo Cruz aparece a toda hora na TV reclamando - “ouvi de fontes”, diz ele - que o governo Lula esboçando reação ao Centrão é o mesmo que Jair Bolsonaro ameaçando fechar o STF.
Fosse jornalista, em vez de decano da mexeriquice profissional, este senhor muito “paz e bem”, mas com um nariz enorme, ajudaria a esclarecer a diferença entre mobilizar as pessoas contra a máfia das emendas parlamentares que se infiltrou no Congresso Nacional e açular as pessoas contra o STF para fins de golpe de Estado.
Na noite desta quinta-feira, 3, William Bonner e Renata Vasconcelos aparecerem na escalada do Jornal Nacional reclamando da “escalada dos ataques ao Congresso” e abrindo o microfone para o deputado bolsonarista Tenente-Coronel Zucco mandar essa aqui no prime time, com o cacife de um apontado pela polícia como patrocinador de atos golpistas no Rio Grande do Sul:
“O que o PT está fazendo nas redes sociais é muito grave. Onde vamos parar com essa escalada de radicalismo?”.
Presidente da Câmara dos Deputados, ou seja, capo do Centrão, ainda que não seja o capo di tutti capi; Grupo Globo; tenente-coronel da reserva do Exército irmão de general de brigada que é chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sul: o maiores inimigos do povo brasileiro ficaram de reclamador aberto ao primeiro sinal de ânimo do governo para tentar sair das cordas.
Bastou um sinal de ânimo do governo para tentar sair das cordas para animar as pessoas a transbordarem das redes sociais e botarem de novo os pés nas ruas, contra “Hugo Mamatta”, contra o Centrão, em manifestações marcadas para a semana que vem.
É quando o governo, por meio da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, solta nota de repúdio aos “ataques pessoais e desqualificados” a Hugo Motta nas redes, advertindo a militância que “o respeito às instituições e às pessoas é essencial na política e na vida”.
É quando o líder do governo na Câmara, José Guimarães, solta nota manifestando “minha solidariedade ao presidente Hugo Motta”.
Eles são “Republicanos” só no nome do partido - o partido de Motta, de Zucco, de Tarcísio. Nós somos republicanos de verdade, às vezes até demais, tanto, tão ferrenhos, tão carolas, que um dia desses acabamos morrendo disso.