Os títulos de crédito do Banco Master e tudo mais que é podridão
Sobre a tentativa do bolsonarismo raiz e do bolsocentrão de tirar a PF do encalço de mafiosos com anel de doutor e, por outro lado, carimbar chacinas de criminosos sem banco, refinaria ou mandato.

1. Cláudio Castro
Cláudio Castro é advogado, cantor gospel, governador do Rio de Janeiro e pré-candidato ao Senado pelo bolsonarismo raiz/“Consórcio da Paz”, aquele que apoia megachacinas policiais-eleitorais a título de “contenção” do crime organizado. Pois bem. Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, foi preso pela Polícia Federal nesta terça-feira, 18, no âmbito de uma operação que mira a venda de títulos de crédito falsos. Há pouco mais de um mês, no início de outubro, o TCE-RJ acusou irregularidades em aportes recentes feitos pelo governo Castro no Banco Master via Fundo Único de Previdência Social do Rio de Janeiro (Rioprevidência).
Até julho, segundo o tribunal, R$ 2,6 bilhões dos aposentados do Rio estavam em títulos emitidos pelo banco de Vorcaro e em fundos administrados pela Master Corretora, numa altura em que o Master já era investigado por fraudes com precatórios e por pouco não tinha virado objeto de uma CPMI para apurar a proposta de aquisição do banco pelo governo de outro pré-candidato ao Senado, Ibaneis Rocha, via Banco de Brasília.
Um desses fundos, de sugestivo nome, “Revolution”, tinha investimentos em títulos emitidos pela Blum Securitizadora, braço do Grupo Reag, que foi um dos principais alvos da operação Carbono Oculto na Faria Lima por suspeita de lavagem de dinheiro para o PCC. No fim de agosto, no dia em que estourou a Carbono Oculto, a imprensa corporativa fez saber que a operação gerou “temor no mercado” quanto à possibilidade de divulgação de nomes de clientes graúdos da Reag. Pois aí está o Master.
Além de pôr dinheiro no Master, o governo Castro também atuou recentemente em favor da Refit, a antiga refinaria de Manguinhos, interditada em setembro após uma operação da Receita Federal e da ANP, em desdobramento das operações Cadeia de Carbono e Carbono Oculto. Em outubro, no sentido contrário às ações das autoridades federais, a Procuradoria-Geral do Rio pediu à Justiça a reabertura da Refit, alegando “relevante prejuízo aos cofres públicos”.
Meses antes, Castro foi um dos participantes de um evento em Nova York patrocinado pela… Refit. Em sua intervenção, o governador disse que o crime organizado cresceu no Rio foi por culpa da… “famigerada ADPF 635” — a ADPF das Favelas. Também participaram do evento patrocinado pela Refit o então presidente do STF, Luis Roberto Barroso, empresários como Wesley Batista (JBS), banqueiros como Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) e outros políticos brasileiros, como o deputado federal Dr. Luizinho e o senador Ciro Nogueira.
2. Ciro Nogueira
Ciro Nogueira é advogado, empresário, senador pelo Piauí e cotado para ocupar a vice de Tarcísio de Freitas na provável chapa bolsonarismo raiz/bolsocentrão para a disputa da presidência da República no ano que vem. No ano passado, Nogueira tentou, mas fracassou, emplacar na PEC da autonomia financeira do Banco Central aquela que ficou conhecida como “emenda Master”, que quadruplicava, de R$ 250 mil para R$ 1 milhão, a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito para aplicações como o CDB, principal produto do Banco Master.
Em abril deste ano, o senador atuou nos bastidores, desta vez com sucesso, para a impedir a CPI do Banco Master. Meses depois, em setembro, uma testemunha da operação Carbono Oculto disse à Polícia Federal e ao ICL Notícias que os chefes do esquema do PCC no mercado de combustíveis — “Primo” e “Beto Louco” — pagaram propina a Ciro Nogueira para o senador atrapalhar o andamento de um projeto de lei contrário aos interesses dos mafiosos e fazer gestões na ANP para tentar reverter a revogação das licenças das principais empresas de combustíveis envolvidas no esquema criminoso — Copape e Aster.
Anos atrás, em atuação semelhante ao relatado pela testemunha da Carbono Oculto, Nogueira, segundo a imprensa, pressionou o Cade pelo arquivamento de uma investigação contra a Refit e uma subsidiária da Refit, a distribuidora de combustíveis Rodopetro. Na época, o processo foi mesmo arquivado. Segundo a Carbono Oculto, quem “sucedeu” a Copape e a Aster no esquema PCC/combustíveis/Faria Lima, após a ANP cassar as licenças das empresas de “Primo” e “Beto Louco”, foi justamente o Grupo Refit, por meio justamente da Rodopetro.
Semanas atrás, no início de novembro, estourou a operação Carbono Oculto 86, desdobramento da Carbono Oculto contra a infiltração do PCC no mercado de combustíveis do Piauí (86 é o DDD do estado). Um dos postos que foram alvos da operação repassou entre abril e maio deste ano um total de R$ 63,9 mil à Ciro Nogueira Agropecuária Imóveis, incorporadora que pertence ao senador. Os depósitos foram feitos por meio do BK Bank, fintech apontada pela Carbono Oculto como peça-chave no esquema PCC/combustíveis/Faria Lima.
Os investigadores da Carbono Oculto 86 suspeitam que um ex-assessor, aliado político e homem de confiança de Ciro Nogueira foi quem intermediou a venda de uma rede de postos piauienses para uma empresa que tem conexão acionária com mais um dos principais alvos da Carbono Oculto em São Paulo, uma gestora de fundos do nobre, moderno e elegante Itaim Bibi.
3. Cláudio Castro e Ciro Nogueira (e Guilherme Derrite)
Há uma semana, na última quarta-feira, 12, o Congresso Nacional realizou uma sessão solene para homenagear Cláudio Castro e os chefes de policia do Rio de Janeiro pela “Megaoperação Contenção” e os quatro policiais que também morreram na serra da Misericórdia — além dos 117 “narcoterroristas neutralizados” que, depois, viraram “opositores neutralizados” nas explicações sobre a “megaoperação” enviadas pelo governo Castro ao relator da ADPF das Favelas, Alexandre de Moraes.
A sessão foi presidida por Ciro Nogueira, um dos autores do requerimento para a homenagem, ao lado de Dr. Luizinho. Um dos oradores da sessão foi um terceiro pré-candidato ao Senado, Guilherme Derrite, escalado pelo consórcio bolsonarismo raiz/bolsocentrão para transformar o PL Antifacção do Governo Federal em “Marco Legal do Combate ao Crime Organizado” — na verdade, “marco legal” para tirar a PF do encalço de mafiosos com anel de doutor e, por outro lado, carimbar chacinas de criminosos sem banco, sem refinaria, sem mandato, ao pretender classificar os traficantes dos morros como “narcoterroristas”.
Em sua fala, Derrite fez questão de pontuar que “essa Operação Contenção, governador Cláudio Castro, está no contexto, no bojo” do projeto sob sua relatoria, afinal aprovado nesta terça-feira, 18, na Câmara, com 370 votos favoráveis a 110 contrários, na sexta versão de substitutivo apresentada pelo eterno 1º tenente da PMESP expulso da Rota por excesso de mortes. O texto aprovado não chega a quebrar as pernas da PF, como foi tentado inicialmente, mas ainda assim é um presente para criminosos — os graúdos.
Após a votação, Derrite agradeceu “o apoio e a confiança” de Tarcísio. Agradeceu ainda a Hugo Motta e Jair Bolsonaro, e avisou: “àqueles que tentaram nos atrapalhar, de diversas maneiras, que fique claro este recado de 370 votos favoráveis do plenário. É mais do que um recado. É um recado direto: nós estamos apenas começando”.
Fontes:
https://www.instagram.com/p/DRPE83iDk44/
https://g1.globo.com/politica/blog/octavio-guedes/post/2025/10/16/estado-reabertura-refit-rj.ghtml
https://www.youtube.com/watch?v=a5GLdkV5FLI
https://iclnoticias.com.br/acusados-pf-chefiar-pcc-propina-ciro-nogueira/
https://www.metropoles.com/sao-paulo/mpsp-uniao-rivais-combustivel-esquema
https://www.metropoles.com/brasil/ao-stf-castro-diz-que-117-mortos-sao-opositores-neutralizados
https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=10099951&ts=1762883618687&disposition=inline




