Pai do 'dono do orçamento secreto', autor de 'emenda safadona': os deputados que votaram para cassar Glauber Braga
Até os mármores da Câmara sabem que a cassação de Glauber é vingança de Arthur Lira e dos, digamos, usuários do orçamento secreto. A senhora Justiça sabe também. Só vamos ajudá-la a lembrar.
O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou na última quarta-feira, 9, a cassação do deputado Glauber Braga (Psol-RJ) por 14 votos a 5, por causa da reação intempestiva de Glauber - empurrões, um pontapé - a um provocador do MBL. Este, na verdade, é o pretexto. Até os mármores e granitos da Câmara sabem que o processo de cassação de Glauber é movido por vingança contra o deputado, cujo mandato tem sido de enfrentamento aos desmandos de Arthur Lira e de resistência ao “legado” de Lira: o orçamento secreto.
Até os mármores e granitos da Casa sabem. A senhora Justiça, também. Como o caso Glauber será, por certo, judicializado, Come Ananás ajudará a refrescar a memória da deficiente visual.
Um levantamento feito por Come Ananás mostra que metade dos deputados que votaram a favor da cassação de Glauber Braga - pelo menos a metade - têm ligações com casos suspeitos de irregularidades - desvios, favorecimentos ou falta de transparência, ou os três - com recursos do orçamento secreto. Alguns deles, casos de polícia.
A começar pelo deputado João Leão (PP-BA), um dos que apertaram “sim” para cassar Glauber. Ele é pai do ex-deputado federal Cacá Leão, que, por sua vez, é o “pai” das emendas do orçamento secreto que financiaram obras de pavimentação do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) investigadas pela Polícia Federal por suspeitas de desvios. João Leão foi vice-governador da Bahia, vice do ex-governador Rui Costa, atual ministro da Casa Civil. Na época, o filho do João era tido como um dos “donos do orçamento secreto” no estado.
Outro deputado baiano que votou contra Glauber no Conselho de Ética, Ricardo Maia (MDB), destinou no ano passado R$ 11,7 milhões em emendas Pix (rebranding do orçamento secreto) para um pequeno município baiano, Tucano, cujo prefeito é um jovem de 25 anos de idade chamado Ricardo Maia Filho. O caso de pai pra filho em Tucano é o mais expressivo, o de valor mais alto em emendas Pix, entre os 361 municípios brasileiros contra os quais o MPF acaba de pedir abertura de ações criminais por falta de prestação de contas sobre a aplicação de recursos federais.
Já o deputado Junior Lourenço (PL-MA), que também votou contra Glauber, é protagonista de um caso parecido, mas genealogicamente inverso: de filho para mãe. Em 2022, quando a Justiça Federal no Maranhão bloqueou R$ 20,7 milhões em verbas do orçamento secreto por suspeitas de irregularidades, o maior repasse bloqueado, de R$ 9,3 milhões, era de Junior Lourenço para o município de Miranda do Norte. Na época, a Justiça maranhense apontou “nítida discrepância” entre o número real de usuários do SUS na cidade e o número apresentado pela prefeita Angélica Bonfim para justificar os repasses milionários enviados de Brasília por seu filho Junior.
Já o deputado Albuquerque (Republicanos-RR), mais um do Conselho de Ética que votou contra Glauber Braga, destinou no ano passado R$ 3 milhões do orçamento secreto para uma ong chamada Instituto Brasileiro de Cidadania e Ação Social (Ibras), para fins de “desenvolvimento da pesca artesanal”. O Ibras tem sede no mesmo endereço de uma academia de pilates. A ong está na mira do STF por falta de transparência na execução de emendas parlamentares e é alvo do Tribunal de Contas de Roraima por um contrato com o governo do estado para organizar shows sertanejos milionários, como um de Wesley Safadão, numa feira do agronegócio.
Entre os deputados que votaram pela cassação de Glauber Braga estão ainda:
Rafael Simões (União Brasil-MG), um condenado por peculato que, com a mãozinha de Rodrigo Pacheco, transformou a cidade mineira de Pouso Alegre em uma das campeãs do orçamento secreto; Bruno Ganem (Podemos-SP), um dos deputados da bancada evangélica que transformaram Carapicuíba, em São Paulo, em “paraíso” das emendas Pix - e inferno da transparência; e Marcio Marinho (Republicanos-BA), um bispo da Igreja Universal que direcionou R$ 2,3 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma fazenda ligada à igreja de Edir Macedo.
É um escândalo.
Glauber fica.