Polícia Federal citou matéria do Come Ananás em inquérito que indiciou Carla Zambelli
O inquérito foi concluído no início de 2024. Depois, a PGR denunciou a deputada ao STF, que acolheu a denúncia e, dias atrás, condenou Zambelli a 10 anos de prisão. A deputada, porém, fugiu do Brasil.
A Polícia Federal citou uma matéria do Come Ananás no inquérito que apurou a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelo Hacker Walter Delgatti Neto, a mando da deputada Carla Zambelli (PL-SP), para inserção de uma ordem de prisão falsa contra o ministro Alexandre de Moraes.
O crime aconteceu no dia 4 de janeiro de 2023, às vésperas dos ataques do 8/1 à praça dos Três Poderes e na sequência das reuniões de Jair Bolsonaro com os militares para discutir e ajustar uma minuta de estado de sítio que previa a prisão de verdade de Moraes.
O inquérito foi concluído em fevereiro do ano passado e resultou no indiciamento de Zambelli e Delgatti. Depois, a PGR denunciou a deputada e o hacker ao STF, que acolheu a denúncia e, no último 16 de maio, condenou a dupla pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
Delgatti pegou oito anos e três meses de prisão. A pena fixada para Zambelli foi de 10 anos de prisão em regime inicial fechado, mas a deputada aproveitou um período recursal protocolar para fugir do Brasil.
A invasão do sistema do CNJ teve o objetivo de “expor eventuais vulnerabilidades dos sistemas do Poder Judiciário como forma de desacreditar o sistema eletrônico de votação gerenciado pelo Tribunal Superior Eleitoral”, conforme assinalou Moraes em 2023 no despacho que, ainda na fase de investigação, autorizou a prisão preventiva de Delgatti e operações de busca e apreensão em endereços de Zambelli e de dois homens ligados à deputada que fizeram depósitos para o hacker.
O despacho de Moraes foi emitido no dia 1º de agosto de 2023. Naquela altura, Walter Delgatti já afirmava ter recebido R$ 40 mil de Carla Zambelli para inserir a ordem de prisão fake contra Moraes no sistema do CNJ.
Na matéria do Come Ananás citada no inquérito, publicada três dias depois do despacho de Moraes, mostramos que em dezembro de 2022 o gabinete de Carla Zambelli pagou exatamente R$ 40 mil a uma empresa de produção de conteúdo para redes sociais, a Hernani Filmes e Marketing Digital, cuja sócia única é casada com Jean Hernani Guimarães Vilela de Sousa, um dos homens ligados a Zambelli que fizeram depósitos para Walter Delgatti e que foram alvos de busca e apreensão.
Detalhe: entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, todas as redes sociais de Carla Zambelli - Facebook, Instagram, YouTube, Twitter, Telegram, TikTok, Gettr, WhatsApp e Linkedin - estavam bloqueadas por determinação do TSE. Neste período, não obstante, o gabinete de Zambelli gastou um total de R$ 92 mil em “edição de vídeos” para suas redes, um recorde do mandato. As ações criminosas envolvendo a deputada e Walter Delgatti teriam acontecido entre setembro de 2022 e janeiro de 2023.
Na apuração, Come Ananás analisou as nove notas fiscais emitidas entre novembro de 2022 e janeiro de 2023 por quatro diferentes empresas pagas no período pelo gabinete de Zambelli sob a rubrica “divulgação da atividade parlamentar”.
A nota fiscal do maior pagamento por “divulgação da atividade parlamentar” feito pelo gabinete de Carla Zambelli nos 98 dias em que os perfis da deputada ficaram bloqueados foi para a Hernani Filmes e Marketing Digital, de R$ 31 mil, no dia 9 de dezembro de 2022. O serviço discriminado foi o de “produção, pós-produção e edição de um longa-metragem referente a atividades parlamentares da deputada Carla Zambelli, com veiculação em suas redes sociais e site”.
Come Ananás não localizou o longa-metragem. Na época, procuramos a assessoria de imprensa de Zambelli e a empresa para saber se o serviço de fato tinha sido realizado e onde o longa poderia ser encontrado. A assessoria de Zambelli prometeu verificar e retornar o contato, o que nunca aconteceu.
No WhatsApp da Hernani Filmes e Marketing Digital, quem respondeu foi o próprio Jean Hernani. Ele garantiu que “o serviço foi devidamente executado e entregue para o cliente”, e que “sua publicação ou veiculação não diz respeito à Hernani Filmes”.