Quatro quatro estrelas vão para o xadrez
Um dos oficiais-generais terá ou teria 99 anos ao fim da sua prisão, a depender da progressão, das doenças e dos direitos humanos, mas sempre defendeu que "direitos humanos são para humanos direitos".
Durante o julgamento da Ação Penal 2668 — a Ação Penal do Golpe —, o advogado do réu Augusto Heleno Ribeiro Pereira perguntou ao seu cliente sobre a reunião golpista-ministerial de 5 de julho de 2022: “quando o senhor fala em virada de mesa e soco na mesa, é em sentido literal ou figurado?”.
O general Heleno respondeu sem pestanejar: “figurado, claro”.
Bem, no sentido figurado, virada de mesa e soco na mesa significam isso mesmo: golpe de Estado.
Um soco na mesa literal seria, por exemplo, se o general Heleno tivesse descido o punho no mobiliário de escritório do seu gabinete na Minustah na madrugada de 6 de julho de 2005, em vez de liderar, naquele dia, a Operação Punho de Ferro, quando capacetes azuis sob seu comando invadiram a favela Cité Soleil, em Porto Príncipe, e massacraram dezenas de haitianos, segundo organizações humanitárias.
Virada de mesa no sentido literal seria, por exemplo, se o general Heleno tivesse chegado em sua sala/cela cheia de “dignidade” no Comando Militar do Planalto, nesta terça-feira, 25, já tratando de inverter a posição da escrivaninha.
Dos primeiros quatro oficiais-generais condenados no Brasil por golpe de Estado e que nesta terça começaram a cumprir suas penas em regime fechado, o general Augusto Heleno é o que mais encarna a empáfia, o desprezo, o golpismo que grassa na caserna diante da democracia.
Dos quatro quatro estrelas das Forças Armadas que nesta terça vão passar sua primeira noite no xadrez — Heleno mais Braga Netto, Paulo Sergio e Almir Garnier — o ex-chefe do GSI no governo Bolsonaro é, afinal, a quintessência do bolsonarismo militar.
Augusto Heleno Ribeiro Pereira tinha 57 anos quando comandou o massacre de Cité Soleil, tinha 75 quando andou dizendo aos quatro ventos que “bandido não sobe a rampa”, tem hoje 78 anos e terá ou teria 99 ao fim da sua prisão, a depender da progressão, das doenças e dos direitos humanos, aqueles cuja observância o general Heleno tanto e tanto queria reservada apenas, inapelavelmente, para “humanos direitos”.



