Que Democracia resiste aos lucros do Bradesco?
O Bradesco informou nesta segunda-feira, 5, lucro líquido de R$ 4,7 bilhões no segundo trimestre deste ano. São, em média, R$ 52 milhões de lucro por dia entre abril e junho.
É o mesmo valor, R$ 52 milhões, destinado pelo Governo Federal em 2024 para levar energia elétrica a famílias do estado do Amapá; da obra de desassoreamento pós-catástrofe climática do canal da hidrovia de Rio Grande, no sul Gaúcho; do maior aporte já feito, feito recentemente, em veículos e equipamentos para a Defesa Civil no estado do Paraná; do investimento pela Sabesp, também recente, em obras de saneamento em São José dos Campos, um dos maiores centros urbanos do estado de São Paulo; das obras anunciadas pelo governo de Pernambuco no último Dia Internacional da Água para melhorar o abastecimento no Grande Recife.
O lucro trimestral do Bradesco, 4,4% maior do que o registrado no segundo trimestre de 2023 e 12% acima do primeiro trimestre de 2024, foi puxado pelos R$ 2,2 bilhões de lucro líquido no período da Bradesco Seguros.
Numa nova campanha publicitária na praça, a Bradesco Seguros diz que “cada obstáculo que enfrentamos ao longo do caminho é uma nova oportunidade de elevar a nossa força, resiliência e determinação para subir um degrau a caminho do sucesso”, e que “o Grupo Bradesco Seguros vai estar #ComVocêSempre para superar seus desafios”.
Nenhum cotejo revelador entre o montante do lucro diário do Bradesco e os montantes anuais, quando muito, para superar os desafios das famílias sem luz no norte do Brasil; para evitar novas tragédias no Rio Grande do Sul e no Paraná; para levar redes de esgoto a grandes centros paulistas; para levar água às periferias do Recife; nada disso sairá nos jornais desta segunda, em nenhuma matéria de jornalistas ansiosos, também eles, para subir degraus no caminho do sucesso.
Muito menos aparecerão reportagens sobre a relação dos sucessivos recordes de lucros do “setor de Vida e Previdência” com as sucessivas contrarreformas da Previdência feitas nas últimas décadas no Brasil.
É que, além de grande anunciante do mercado editorial, onde as sucessivas reformas da Previdência são cobradas e defendidas como oração matinal, vespertina e noturna do Brasil moderno, além disso, a Bradesco Seguros é patrocinadora do Prêmio de Jornalismo em Seguros, que em sua edição de 2024 distribuiu R$ 120 mil para os três primeiros colocados. Três jornalistas.
Nenhuma linha, portanto, sobre o que realmente importa: os descompassos do Brasil sob a loucura da “razão” capitalista, sobre que Democracia resiste aos lucros do Bradesco. Nenhuma linha, portanto, de informação à vera.
Nem com o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luis Carlos Trabuco, já tendo dito, sem que fosse contestado por algum amante da Democracia com diploma de Comunicação Social, que “reforma da Previdência é mais importante que eleição”.