Referências de Hugo Motta a Rubens Paiva e ao filme 'Ainda estou aqui' não são o que você está pensando
Valdo Cruz se assustou. Até Valdo Cruz se assustou.
No último sábado, 1º de fevereiro, Arthur Lira fez seu sucessor e o presidente novo em folha da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), encerrou seu discurso de posse no cargo reverberando um filme sobre os horrores da ditadura cujo sucesso de público e crítica ora, segundo a imprensa, “mexe com humores de integrantes das Forças Armadas”.
“Ainda estamos aqui”, foram as últimas palavras do discurso de Motta.
Nesta terça-feira, 4, o jornalista Valdo Cruz, da GloboNews, perguntou a Hugo Motta se a referência ao filme “foi uma referência firme do senhor contra qualquer tentativa de aliados seus - porque o bolsonarismo é seu aliado - de tentar novamente uma ditadura”.
Esta foi a resposta:
“Todo e qualquer tipo de ditadura terá de nós uma reação forte. Não só a ditadura militar, mas também a instituição de decisões que não respeitem o Legislativo. Então, toda e qualquer ditadura terá reação do presidente da Câmara para que nossas prerrogativas não sejam tiradas. A história do ex-deputado Rubens Paiva ela deve ser sempre lembrada. Ele foi uma vítima desse momento difícil que o Brasil viveu e nós fizemos questão de registrar no nosso discurso para dizer que o Poder Legislativo está de pé e Câmara estará sempre pronta para reagir a toda e qualquer interferência que vier a acontecer”.
“Mas então foi mais um recado para o Supremo do que uma mensagem para o país de que ditadura nunca mais?”, assustou-se Valdo Cruz.
Até Valdo Cruz se assustou.
“Se foi entendido como recado para alguém, é porque alguém está se doendo”, respondeu Hugo Motta.
Ouça o áudio:
As referências do novo presidente da Câmara dos Deputados ao filme “Ainda estou aqui” e a Rubens Paiva, em seu discurso de posse, foi menos um ato político de defesa da Democracia, contra o bolsogolpismo, contra o Partido Militar - se é que foi -, e mais, muito mais um manifesto pouco sutil contra a “ditadura da toga”, justamente uma conhecida palavra de ordem de quem sente saudade da ditadura de verdade - e eles não são poucos.
Ninguém, no entanto, poderá se dizer surpreso com isso - muito menos Valdo Cruz -, porque foi justamente isso - o desdém pela Democracia, o desprezo por valores, a incivilidade e oportunismo, por exemplo, ante um corpo escondido pelo Estado brasileiro e que nunca mais apareceu - que fez de Hugo Motta o “candidato de consenso” à presidência da “Casa do Povo”.